No último sábado, 21 de abril de 2018, fui ordenado ao ministério pastoral na amada Igreja Batista Filadélfia de Fortaleza. Foi um dos momentos mais especiais da minha vida. Era a concretização de um chamado e desejo do meu coração. Na ocasião pude compartilhar com todos um breve testemunho da minha caminha até o santo ministério. Lembrei das dificuldades que passei e da falta de bons conselhos, de um norte, para me ajudar a trilhar um caminho correto e saudável. Pensando nisso, quero escrever uma humilde carta a todos os que possuem esse desejo pelo ministério pastoral. Não me coloco aqui como alguém experiente, mas como alguém que acabou de passar por isso. Sei que as dúvidas e ansiedades são fortes para quem está buscando seriamente o pastorado e quero ajudar falando sobre o básico dessa jornada. Se você sinceramente desejar ser um pastor, os próximos parágrafos são para você.
A primeira coisa que você precisa saber é que esse desejo é algo bom. Mais do que bom, excelente! Veja o que Paulo diz a Timóteo: “Esta palavra é digna de crédito: Se alguém almeja ser bispo, deseja algo excelente.” (1 Tm 3:1). Parece óbvio, mas você precisa ter essa convicção. Enfrentei dificuldades com pessoas que diziam que esse desejo poderia ser fruto de um coração vaidoso. Elas estavam, em parte, corretas. Poderia ser. Você precisa julgar suas motivações e se perguntar: “por que quero ser pastor?”. Seja sincero. Por outro lado, não ache que você precisa ter uma visão ou opinião perfeita sobre o seu desejo. No início você ainda não sabe muito bem o que é ser um pastor, ninguém sabe.
Na maioria dos casos somos encantados pela pregação e queremos ser pregadores. Pegamos de forma isolada um dos elementos do ministério pastoral para aquecer nosso desejo. Isso é ingenuidade, mas não torna o chamado algo errado. Creio que Deus nos desperta por meio de algum elemento específico, mesmo que não saibamos do todo. Se esse é o seu caso, ok. Há muito o que aprender no caminho à frente e é exatamente essa caminhada de aprendizado que vai confirmar ou não o seu chamado.
Sabendo que o que você deseja é excelente, mesmo de forma ingênua, agora é hora de ganhar confiança. Você precisa de convicção do seu chamado. Sofri com muitas dúvidas sobre aquilo que eu sentia. Quando comecei a pregar e ensinar colocaram grande expectativa em mim e logo fiquei com medo de frustrar todas aquelas pessoas. Eu me escondia diante das perguntas: “você quer ser mesmo pastor?” ou “tu acha que Deus te chamou para isso?”. Lá no fundo eu diria que sim, mas não tinha coragem de dizer. Deus precisou intervir para que eu saísse da covardia.
Caro irmão, o que precisamos primeiro é da convicção de que Deus é soberano. Dele é o chamado e é Ele que nos colocará ou não no ministério. Quando entendi e passei a viver nessa confiança pude confiar no meu chamado. Agora preste atenção, não estou dizendo que eu passei a ter certeza que Deus me faria um pastor. Passei apenas a ter certeza de que esse era o meu desejo! E que se Deus quisesse, Ele seria o responsável por concretizar a obra, não eu ou qualquer outra pessoa. Foi assim que perdi o medo das expectativas, dependendo de Deus.
Bem, se você sente o chamado, sabe que ele é algo excelente, está convicto dele e dependendo de Deus, então chegou a hora de começar a jornada até o ministério. Lembre-se de duas coisas antes de começar. Primeiro, a sua estrada tem o tamanho que Deus quiser. Não se compare com ninguém. A minha durou 10 anos. Comecei a desejar o ministério aos 17 e fui ordenado ao 27. Para alguns esse é um tempo longo, para outros um tempo curto. O que importa é que foi o tempo de Deus. Em segundo lugar, nessa estrada não existem atalhos seguros. Dê um passo de cada vez. Tentar acelerar o processo pode causar grandes problemas no futuro.
Então vamos para a prática. Você precisará de duas coisas: preparação e reconhecimento. Isso mesmo, reconhecimento, mas vamos por partes. Comece estudando teologia. Se você já faz alguma faculdade aconselho que se forme antes de ir ao seminário. Se você entrar direto no Seminário, aconselho que se prepare para uma segunda profissão, um plano B. Eu, por exemplo, me formei em administração e até hoje trabalho em pequenos serviços com marketing digital. Nesse tempo de faculdade você pode aproveitar para estudar em casa de maneira informal (mas não preguiçosa!). Leia muito a Bíblia e outros livros. Se você não gosta de ler e estudar e nem tem o interesse em gostar, o ministério pastoral não é para você. Ao entrar no seminário, estude o máximo que puder!
Agora algo importantíssimo! Enquanto você estuda nunca deixe de servir a sua igreja. Isso o ajudará a não se distanciar dos irmãos e a não se encher de orgulho por saber mais. Sempre coloque sua teologia em prática no serviço na sua igreja local. Se submeta a ela e aos seus pastores e líderes. Não ache que exista algo que você não pode fazer. Faça desde os trabalhos braçais até os intelectuais. Se você é preguiçoso o ministério pastoral não é para você. Além de ajudar no seu caráter e no dia a dia da sua igreja, você abrirá portas para o reconhecimento. Isso pode parecer estranho, mas é necessário. A igreja precisar ver em você alguém com um real amor e zelo por ela. Não estou falando de buscar o reconhecimento humano para seu próprio orgulho, mas de mostrar a igreja que você a ama e será capaz de pastorear no futuro. Creio que o chamado é confirmado interiormente no coração e exteriormente na igreja. Se as pessoas, principalmente a liderança, conseguem ver e até falam de você como um possível pastor, é sinal que o caminho está correto.
Quero deixar uma dica bônus de extrema importância aqui. Que fique registrado nessa carta: se você deseja e busca o ministério pastoral a decisão mais importante que você terá que fazer é sobre a mulher com que irá se casar. Escolha com sabedoria uma mulher piedosa e que deseje ser uma esposa de pastor.
Antes de encerrar permita-me perguntar algo bem direto: você consegue pregar? O ministério pastoral requer o dom de ensino. Essa é a única característica particular e diferencial daqueles que almejam esse ministério: “apto para ensinar” (1 Tm 3:2). Não entre no ministério pastoral se você é incapaz de pregar. Ser pastor é mais do que pregar, mas não pode ser menos. Agora leia com calma, isso não significa que você já nasceu sabendo pregar e nem que você precisa ser um grande pregador famoso. Aprenda a pregar estudando e praticando. Perca a timidez! Eu sempre fui tímido demais e tive que superar isso. Indico que você comece ensinando as crianças no ministério infantil, isso ajudará demais a se soltar. Lidere grupos pequenos para ensinar. Evangelize e peça para pregar em reuniões menores da sua igreja. Seja um pregador e aproveite cada oportunidade!
Agora encerro com um apelo: tenha uma vida piedosa! E com isso quero dizer uma vida devocional com Deus e em luta constante por santidade. Não deixe a rotina de estudo e serviço matar sua prática de oração e leitura da Palavra como deleite em Deus. Nunca perca esse prazer no nosso Senhor. E por favor, lute por santidade. Você deve ser padrão aos crentes de uma vida com Deus (1 Tm 4:12). Abandone um namoro imoral. Abandone a pornografia. Abandone os seus pecados o máximo que puder. Viva para a glória de Deus!
Indicação de Livros: Eu Sou Chamado?, de Dave Harvey, Editora Fiel; Vocação Perigosa, de Paul Tripp, Editora Cultura Cristã; Amado Timóteo, de Tom Ascol, Editora Fiel.
Um grande abraço e que Deus te conduza por essa jornada maravilhosa rumo ao ministério pastoral. Caminhe com convicção. Se você não chegar lá, lembre-se que Deus é soberano e o sirva onde Ele lhe colocar. Soli Deo Gloria!
Pedro Pamplona, 24 de abril de 2018.
Pedro Pamplona é casado com Laryssa e pastor na Igreja Batista Filadélfia, em Fortaleza. Formado em administração pela Faculdade 7 de Setembro (Fortaleza/CE), pós-graduado em Estudos Teológicos pelo Centro Presbiteriano Andrew Jumper (São Paulo/SP) e estudante do Sacrae Theologiae Magister (Th.M) em Teologia Sistemática do Instituto Aubrey Clark (Fortaleza/CE).