Talvez esse texto tivesse um impacto melhor se fosse escrito por uma mulher. Ou talvez alguém achasse que tal mulher estaria exagerando e sendo feminista. Para equilibrar, a opinião a seguir nasceu numa conversa com minha esposa (percepção dela) e estou concordando e expandindo essa conversa para que mais mulheres reflitam nessa ideia. A mensagem é: mulheres, saiam da bolha “teológica” feminina!
Antes de dizer qualquer coisa quero afirmar que acho sensacional o trabalho que as editoras brasileiras tem feito de publicar livros voltados para mulheres. Aqui em casa temos vários sobre feminilidade, vida cristã e ministério de mulheres. Como candidato ao ministério pastoral e crítico ferrenho do feminismo moderno, gosto demais dessas obras e leio junto com minha esposa. Gosto muito das páginas teológicas voltadas para mulheres também. Existem bons conteúdos que devem ser aproveitados, inclusive aqui no Dois Dedos.
No meio desse bom contexto surge a tal bolha “teológica” feminina. Uso as aspas porque o problema é exatamente o não ser tão teológica assim. Claro, o problema não está nas editoras e nas produtoras de conteúdo. A questão é individual de cada mulher e de ministérios femininos. Eu diria que você está na bolha “teológica” feminina se seu consumo bíblico-teológico estiver limitado aos assuntos e conteúdos femininos mais populares. Deixa eu dar um exemplo… Você já percebeu que a maioria dos cultos, retiros e reuniões de mulheres falam sobre submissão ao marido, criação de filhos ou cuidado do lar? Você já percebeu que as perguntas são quase sempre as mesmas: como ser uma boa esposa? Como criar os filhos nos caminhos do senhor? Me responda se você for capaz: Qual foi a última vez que você viu ou foi num culto, retiro ou reunião de mulheres em que o tema foi a exposição de algum livro da Bíblia ou um estudo sobre Trindade, cristologia, doutrina da salvação, eclesiologia ou qualquer grande tópico teológico?
Pois é, muitos ministérios femininos e mulheres tem se fechado numa bolha “teológica” que define a mulher cristã mais pelo que ela faz como esposa e mãe do que pelo que ela crê como filha e serva de Deus. E tenha certeza de que há um grande risco quando definimos nossa identidade cristã por meio de atividades e não da fé que foi entregue aos santos. A vida cristã está alicerçada no “creio” e não no “faço”. Basear nossas vidas naquilo que fazemos é ter como alicerce algo fraco e instável. Mulheres verdadeiramente fortes na fé são aquelas que, antes de tudo, tem uma boa e grande visão teológica sobre o Deus que servem. Todos nós sabemos disso, não sabemos? Mas ainda assim somos tentados a alimentar essa bolha. Um grito para fura-la seria: TEOLOGIA NÃO É COISA SÓ DE HOMEM!
Quero ver minha esposa lendo boas teologias sistemáticas e os mesmos livros que leio. Quero ve-la lendo bons comentários bíblicos e sendo capaz de discutir teologicamente comigo. Quero a fé dela e das minhas amigas baseadas numa boa e santa visão de Deus e da sua obra de salvação, não apenas em atividades familiares. Essas são consequências da nossa fé e solidez da nossa teologia. Ser uma boa cristã é igual a ser um bom cristão, tudo começa com nosso entendimento de Deus. Se você é mulher e está lendo esse texto, fure essa bolha e ajude outras a perceberem a mesma situação. Continue lendo e ouvindo os ótimos conteúdos voltados exclusivamente para as práticas feminias, mas não deixe sua vida teológica se limitar a isso. Que as igrejas e ministérios femininos possam oferecer banquetes teológicos para as mulheres e não apenas aperitivos práticos do lar. Glorificamos a Deus conhecendo mais quem Ele é!
Ps: meu conselho para você que quer ter um primeiro contato com a boa teologia é comprar uma boa teologia sistemática. Leia juntamente com a bíblia. Esse tipo de livro reúne os grandes temas da teologia de maneira bem organizada e busca aborda-los de maneira bíblica. Eu recomendo a Teologia Sistemática de Wayne Grudem, publicada pela Editora Vida. Ela vale o investimento, mas se você não tem condições de compra-la procure pela sua versão condensada. Chama-se Manual de Doutrinas Cristã. Eu comecei por ela. É mais barata e tem um ótimo conteúdo para edificação de sua vida feminina e teológica!
Pedro Pamplona é casado com Laryssa e formado em administração pela Faculdade 7 de Setembro (Fortaleza/CE), pós-graduado em Estudos Teológicos pelo Centro Presbiteriano Andrew Jumper (São Paulo/SP) e estudante do Sacrae Theologiae Magister (Th.M) em Teologia Sistemática do Instituto Aubrey Clark (Fortaleza/CE). Serve integralmente como líder de jovens na Igreja Batista Filadélfia, em Fortaleza.