Qualquer um que conheça um pouco do humor cearense conhece os personagens Coxinha e Doquinha. Para quem não conhece, Coxinha é o estereótipo daquele que na frente de alguém esbanja elogios, mas quando esse alguém dá as costas, ele começa a difamar, ou tesourar, na linguagem coloquial, o dito cujo. Tanto Coxinha como Doquinha são exemplificações de como o pecado da fofoca e difamação pode ser esvaziado de seu caráter negativo quando a situação que deveria criar repulsa é vertida em risos.
O irônico é que sempre somos levados a rir com Coxinha e Doquinha, mas nunca nos colocamos no lugar daquele que é difamado. Aliás, quem gosta de ser difamado e por cima disso ser motivo de piada? Então por que tantas vezes somos estes que fofocam sobre os outros? E o que é pior, por que isso acontece em nossas igrejas? Por que aqueles que louvam no início do culto são aqueles que saem para comer aquela pizza e fofocar sobre os outros depois do culto?
Várias desculpas podem ser apresentadas para a fofoca: “Ele fez isso em público, estamos só comentando”; “Isso não é mais segredo, todo mundo já sabe”; “Ela não se preserva” e por aí vai. A fofoca é uma deturpação da correta aplicação da disciplina eclesiástica e uma autoflagelação do corpo de Cristo. Ela não só contribui para o não crescimento em maturidade do corpo de Cristo, como é uma forma que esconder seus próprios pecados fazendo parecer que o outro é mais pecador do que você quando fofoca. A fofoca também não contribui para a santificação do corpo, pois o alvo da fofoca só saberá que é motivo de conversas pelas bocas que estão sendo difamadoras, mas não santificadoras. Ou seja, a pessoa continua em pecado, ou em simplesmente algo que foi desagradável, enquanto outros se acovardam fofocando sobre ela. Isso é o contrário do que A Bíblia nos ensina.
A Bíblia não ensina que devemos falar sobre os pecados ou falhas dos outros para terceiros, quartos e quintos, mas para aquele que se encontra em erro. Quer seja um pecado contra nós mesmos (Mt 18.15), quer seja porque percebemos o erro do outro e engajamos um processo de convertê-lo desse erro (Tg 5.19-20), o correto a ser feito é falar com a pessoa o erro cometido por ela para que possamos “salvar a alma da morte” e “ganhar o irmão”.
O processo de disciplina, caso a conversa em particular não resolva e seja necessário outras testemunhas, sempre deve ser mantida no menor número possível de pessoas para que a imagem do irmão em pecado seja preservada. O que a fofoca faz o oposto disso, ao contrário de salvá-la da morte, estamos apressando sua autodestruição, e ao contrário de ganhar o irmão, estamos perdendo-o, ao contrário de preservá-lo, estamos difamando-o. Ao invés de tratar a ferida, a fofoca é como o dedo que cutuca e ri disso.
A fofoca é uma mácula para a unidade do corpo de Cristo. A igreja deve ser uma comunidade de pessoas que se admoestam em bondade e em conhecimento uns aos outros (Rm 15.14). Devemos ser aqueles que zelam pela integridade do corpo de Cristo, devemos ser aqueles que zelam pelo bom nome da Noiva de Cristo. Imagine que uma pessoa fofoque ou fale mal de sua namorada(o)/noiva(o)/cônjuge. Certamente você não gostará. Quanto maior deve ser então o desgosto de Cristo quando ele vê que crentes falam mal uns dos outros, comportando-se como descrentes e escarnecendo da Noiva pela qual ele se sacrificou?
Não se engane. Tanto erra aquele que fofoca quanto aquele que ouve sem encerrar o assunto. Ser conivente com o erro é contribuir para sua propagação. Novamente, não se engane. Quem fofoca PARA você, fofoca DE você. O fofoqueiro não é uma pessoa confiável. Ele é uma pessoa que precisa de exortação, ele precisa aprender a lidar com os pecados cometidos pelos outros de forma madura, indo tratar com aquele que pecou primeiramente.
O fofoqueiro precisa se arrepender de seus pecados, porque é bem provável que por detrás da fofoca exista uma pessoa que não reconhece seus próprios pecados, que faz questão de falar do pecado dos outros como uma forma de esconder os seus. O fofoqueiro é uma pessoa falsa e suas palavras de bênção não terão valor algum, pois da mesma fonte não pode jorrar bênçãos e maldições. O fofoqueiro provavelmente tem problemas de perdão e precisa aprender a perdoar, pois a boca fala do que enche o coração. Se ele é aquele que faz questão de aviltar o pecado alheio sem contribuir para a santificação, ele não deve ter aprendido o valor do perdão.
Irmãos, não há motivo para fofoca. Cristo perdoou todos nossos pecados. Os passados, os presentes e os futuros. Isso significa que Cristo morreu por tudo aquilo que deveríamos ser motivo para santificação mútua e não fofoca. Devemos ser os instrumentos que contribuem para a santificação daqueles por quem Cristo morreu. Pense o quão ridículo é fofocar de um pecado de um crente pelo qual Cristo já morreu. Pense o quão patético é levantar sua voz para difamar aquele por quem Cristo já levantou a voz para dizer “está consumado”.
Portanto, da próxima vez que alguém disser: “Nem te conto”, responda: “Pois não conte mesmo e se arrependa!”. Além disso, seja aquele que preserva a imagem daquele que foi adotado como filho de Deus pelo alto preço da morte de Cristo. Seja aquele que trata o pecado do outro admoestando-o com vistas a ganhar o irmão para que o corpo de Cristo cresça em santidade rumo à estatura do homem perfeito.
Matheus Fernandes, Membro da Igreja Batista Filadélfia e seminarista no Seminário e Instituto Bíblico Maranta – SIBIMA.