Uma das marcas históricas da igreja é a unidade. O credo niceno-constantinopolitano (381) confessou uma igreja una, santa, católica e apostólica. Essa confissão e tradição está em harmonia com as Escrituras, de onde retiramos nossa base e verdade para entendermos a igreja de Deus. O Novo Testamento nos aponta uma grande preocupação por essa unidade da igreja. Podemos perceber isso claramente nas cartas de Paulo, principalmente em Efésios. Ali ele convoca os cristãos a se esforçarem diligentemente para preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4:3).
A base de Paulo para esse trabalho pela unidade é o Deus Trino. Ele indica que nossa unidade está no fato de termos um só Espírito (4:4), um só Senhor (4:5) e um só Pai (4:6). No final das contas temos um só Deus Trino e, portanto, devemos viver em unidade. Seguindo essa mesma ideia, o próprio Jesus nos apresenta o fundamento da unidade cristã de modo mais aprofundado em sua oração ao Pai no capítulo 17 de João. Ali encontramos o ponto mais alto da unidade nas Escrituras. Deus Filho está orando a Deus Pai pela unidade do seu povo. É a partir dessa oração trinitária que enxergamos a verdade e a importância da unidade na igreja.
Unidade é a Vontade de Deus
“(20) Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; (21) a fim de que todos sejam um…
Jesus cristo orou ao Pai pedindo unidade para todos os cristãos de todas as épocas. Isso é mais do que suficiente para entendermos que unidade é algo da vontade de Deus. E algo que está em destaque nessa vontade. Deus Pai escolheu pessoas e enviou o filho para criar essa unidade. o Filho morreu e ressuscitou por essa unidade. E o Espírito foi enviado por manter essa unidade. Esse é o desejo de Deus. Ele chamou e redimiu um povo para ser um povo unido. Estar em divisão é estar fora da vontade de Deus.
Deus é o Unificador da Igreja
O que, então, nós cristãos temos em comum que é capaz de produzir tamanha unidade na igreja? Algumas pessoas se unem em torno de um time de futebol, de uma banda ou artista, de uma causa humanitária, de grande laços de amizades, de amor entre familiares, etc. Qual é a cola do povo de Deus? A resposta é até óbvia e talvez seja por isso que não paramos para refletir sobre ela. Acima de tudo, o fator de unidade entre os cristãos é o próprio Deus.
“(21) a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós… (23) eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade”
A lógica que Jesus apresenta em sua oração é a seguinte: Cada cristão, como igreja, está unidade a Jesus. Jesus, como Filho eterno de Deus, está unido ao Pai. Logo, a igreja que está unida a Jesus está unidade a Deus em sua plenitude, tudo isso por meio do Espírito. Nessa união trinitária entre Deus e entre Deus e a igreja é que encontramos nossa cola e somos aperfeiçoados na unidade. É por estarmos todos unidos a Jesus Cristo, e por consequência a Deus em sua plenitude, que somos ou devemos ser plenamente unidos. Por isso é impossível ser cristão e estar dividido da igreja. É impossível estar unido a Deus e em divisão com o povo de Deus que também está unido a Ele.
A Trindade é o Padrão da Unidade
Ao que essa unidade da igreja se assemelha? Qual é o grau de unidade entre os irmãos em Cristo. A comparação de Jesus para oferecer o padrão da unidade cristã é incrível e surpreendente.
“(22) Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos”
Segundo Carson, “glória geralmente refere-se à manifestação do caráter ou da pessoa de Deus em um contexto revelador” (Comentário de João, p. 570). O Filho, portanto, é a glória/revelação do Pai e em seu ministério manifestou essa glória/revelação aos cristãos. Um dos motivos dessa revelação do Pai e do Filho e de como eles se relacionam é para servir de padrão para a unidade da igreja (“para que sejam um, como nós o somos”). O evangelho de João está cheio dessa revelação gloriosa e apresenta algumas características centrais desse relacionamento divino.
Nosso ponto de partida é que a Trindade se trata de 3 pessoas distintas, mas plenamente unidas ao ponto de serem um único Deus. Não há necessidade de uniformidade (todos serem iguais em tudo). Eles são iguais em essência divina, mas diferentes em pessoalidade e papéis. A beleza eterna da Trindade está justamente no fato de três pessoas distintas viverem em perfeita unidade. Assim a beleza da unidade da igreja não está em todos serem iguais, mas justamente em todos serem diferentes em unidade.
Gostaria de destacar rapidamente 3 características que João apresenta do relacionamento Pai e Filho. Elas servem de padrão revelacional para nossa unidade cristã: (1) Amor/intimidade; (2) Ação no mesmo propósito; (3) Autoridade e submissão. Sem entrar em detalhes em cada ponto, podemos dizer que é claro e repetitivo em João que Pai e Filho desfrutam de uma relação de grande amor e intimidade. Um conhece muito bem o outro. Eles também estão sempre agindo no mesmo propósito. Seus objetivos são os mesmo e sua unidade de missão é nítida. Além disso, é interessantíssimo perceber que o Filho se submete ao Pai. Isso nos mostra que na unidade trinitária a fato de haver uma hierarquia de funções não é um obstáculo para a unidade.
Esse padrão revelado por Jesus nos ensina que nossa unidade deve ser baseada em amor e intimidade, cultivando afeições santas e conhecendo uns aos outros. Também devemos estar unidos nos mesmos propósitos. Uma missão e padrões de vida foram dados a igreja. Devemos viver juntos neles para glorificarmos a Deus em santidade e unidade. E por fim, a presença de relações de autoridade e submissão não é um obstáculo para a unidade. Eu diria, inclusive, que é um requisito. A presença de pastores e líderes são essenciais para a unidade da igreja.
O Propósito da Unidade
A unidade tem uma valor eterno em seu propósito. E esse grande propósito da unidade apresentado por Jesus em sua oração tem caráter revelador e missionário.
“(21) para que o mundo creia que tu me enviaste… (23) para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim”
A unidade da igreja é testemunho do amor de Deus pelo seu povo e da missão de Deus em resgate do seu povo. Atenção para as duas conclusões: (1) Se devemos estar unidos no mesmo amor que o Pai tem pelo Filho, e esse amor é o mesmo que ele tem pelo seu povo, nossa unidade revela ao mundo o Amor trinitário de Deus entre si mesmo e esse mesmo amor pela igreja: (2) Se Deus planejou e executou a obra de salvação para redimir e unir um povo em torno de si mesmo, nossa unidade revela ao mundo essa obra missionária de Deus.
Nossa unidade é uma pregação ao mundo do amor e da obra missionária do Deus Trino. Com isso em mente. pare para pensar no que significa estar em divisão e contentas na igreja. Quando nossa unidade está quebrada estamos dizendo ao mundo que Deus não se importa conosco, que Deus não ama o seu povo, e o pior, que Deus Pai não ama o seu eterno Filho. Da próxima vez que você estiver para quebrar a unidade, seja por qualquer coisa, pense nessas implicações. Esse testemunho acerca de Deus é mais importante do que qualquer desejo, indignação, senso de justiça, ativismo (ou seja lá o que for) individual nosso.
Unidade eclesiástica não é menos, mas é mais que amizade, afetos e afinidades. É parte integral de quem Deus nos tornou e está primeiramente compromissada com Deus e sua revelação. A unidade encontrada na igreja deve ser a maior amostra de amor, união e compromisso do mundo. Só assim o testemunho sobre Deus será dado de maneira adequada e eficaz.
Encerro dizendo que Deus é o Fundamento principal de nossa unidade Cristã. Ela é da vontade de Deus. Deus é nosso unificador, Deus é o nosso padrão e é sobre Deus que a unidade testemunha. Viver em unidade é uma questão, acima dos benefícios para nós, de viver para Deus, como Deus e por Deus. É uma questão de expor a sua glória ou não ao mundo. Pense nisso!
“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” (Salmos 133:1)
Pedro Pamplona é casado com Laryssa e formado em administração pela Faculdade 7 de Setembro (Fortaleza/CE), pós-graduado em Estudos Teológicos pelo Centro Presbiteriano Andrew Jumper (São Paulo/SP) e estudante do Sacrae Theologiae Magister (Th.M) em Teologia Sistemática do Instituto Aubrey Clark (Fortaleza/CE). Serve integralmente como líder de jovens na Igreja Batista Filadélfia, em Fortaleza.