Há uma verdade que precisamos nos recordar constantemente: “nada há de novo debaixo do sol” (Ec 1.9) – apesar de que as circunstâncias atuais não nos tem deixado esquecê-la. Esta verdade antiga deve estar cravada em nossas mentes de tal forma que nos lembremos dela em cada texto lido e em cada mensagem pregada, pois nos ajudará a combater as falsas doutrinas, que falsos mestres têm ensinado na Igreja de Deus. Ao olhar uma doutrina surgindo no meio da Igreja, saiba: “já sucedeu nos séculos passados, que foram antes de nós” (Ec 1.10).
O Diabo é sagaz. Desde o Éden ele age sempre da mesma maneira: deturpando a Palavra de Deus. A sua sagacidade, porém, não está em fazer sempre a mesma coisa; mas sim em dar uma embalagem nova às velhas mentiras. E a datar do nascimento da Igreja, há uma heresia terrível (dentre muitas outras) que, vez ou outra, resolve aparecer para nos assolar: a tentativa de judaização da Igreja. Esta é a mentira contada por Satanás, através de seus servos, de que precisamos resgatar os elementos cerimoniais do culto judeu do Antigo Testamento, prescrito na Lei de Moisés.
Já nos dias do Novo Testamento, o apóstolo Paulo lutou bravamente contra homens que insistiam em levar o culto veterotestamentário para dentro do seio da igreja cristã. Dentre muitas outras coisas, aqueles homens queriam estabelecer na igreja o calendário judaico, o cardápio deles e a circuncisão (Cl 2.11-16). Paulo sempre ergueu sua voz contra estes homens (Gl 2; Tt 1.10,11). Não há razão para restabelecer estas coisas na Igreja, pois elas mesmas são sombras daquelas que já vieram (Cl 2.17; cf. Hb 8.5; Hb. 10.1). Estes homens, o apóstolo conclui para Tito, afirmam conhecer a Deus, mas são abomináveis, desobedientes e réprobos em toda boa obra (Tt 1.16).
Os judaizantes, como são chamados os adeptos desta heresia, tentam sempre resgatar de alguma maneira os objetos de culto prescritos na Lei e introduzi-los no culto cristão. A arca da aliança, a pia de bronze, o incenso de ouro e o candelabro, por exemplo, são todos objetos do culto judaico que tais homens tentam reviver e trazer para a Igreja. Apesar da aparência de piedade, estas coisas são vazias de poder (2Tm 2.5). Paulo trata estes homens com muita firmeza, ordenando a Tito novamente que os repreendesse “severamente, para que sejam sãos na fé, não dando ouvidos a fábulas judaicas, nem a mandamentos de homens que se desviam da verdade” (Tt 1.14, ênfases acrescentadas).
O grande e verdadeiro objetivo dos judaizantes é sepultar a Nova Aliança, mesmo que isto seja totalmente reprovado pela Palavra de Deus – tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Isto se torna claro pelo fato de o Antigo Testamento clamar o tempo todo por uma nova aliança, superior àquela (Jr 31.31-34; Ez 36.22-30). Assim, a tentativa de reconstrução de um templo terreno ou a restauração do ofício de um sumo sacerdote em uma igreja dita cristã é realmente uma blasfêmia diante do Senhor. Uma análise mais profunda de todo o Novo Testamento nos permite perceber que estas ações são deturpações de homens insubordinados, faladores vãos, enganadores e cheios de torpe ganancia (Tt 1.10,11).
No Antigo Testamento, uma vez por ano, o sumo sacerdote adentrava o Santo dos Santos, ou Santíssimo Lugar, para fazer expiação pelo pecado do povo (Lv 16.34). O Santo dos Santos ficava separado do restante do Templo por um espesso e alto véu (Lv 16.2,12,15). Dentro do Santíssimo Lugar, estava a Arca da Aliança, que representava a presença de Deus com o povo (Nm 10.33-36; cf. Hb 9.4). Já no Santo dos Santos, com o sangue de um novilho e de um bode sacrificado, o sumo sacerdote espargia o sangue sobre a tampa da Arca da Aliança, que se chamava propiciatório, para expiar os seus próprios pecados e os pecados que o povo cometera durante aquele ano (Lv 16. 6.14, 15, 16, 34).
Muitos séculos passaram desde a instituição destes sacrifícios. Milhares de animais haviam sido oferecidos no Templo como oferta pelos pecados do povo. Então, na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, sob a Lei, para resgatar aqueles que viviam debaixo da Lei (Gl 4.4). Em outras palavras, Jesus veio para fazer aquilo que a antiga Lei não tinha poder para fazer: salvar pecadores (Hb 7.19; cf. Rm 3.20; Rm 7.7, Gl 3.23,24). Se a Lei tivesse poder para salvar pecadores e os sacrifícios de outrora fossem de fato eficazes não haveria a necessidade de Deus enviar Seu único Filho para nos salvar (Hb 7.11).
Na cruz, então, Jesus é o sumo sacerdote que oferece a si mesmo como oferta pelo pecado do povo. Ele é o sumo sacerdote que adentra o Santo dos Santos com seu próprio sangue, expiando os pecados do Seu povo de uma vez por todas (Hb 7.27). Não há mais necessidade de outro sumo sacerdote na Igreja, pois o sacrifício oferecido por Cristo é eterno em Seu poder. O véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mt 27.51), simbolizando que aquele antigo sistema de sacrifícios perdera sua eficácia e que agora podemos nos achegar com confiança ao trono de Deus, sem a intercessão de nenhum outro homem, pois Jesus Cristo é o nosso grande sumo sacerdote (Hb 4.14, 16).
O autor aos Hebreus, aliás, é cirúrgico na sua explicação deste ofício para a Igreja. Ao longo de sua carta, ele faz uma correta conexão entre aquilo que é sombra e o seu cumprimento, entre o tipo e o seu antítipo (Hb 8.5; 10.1). Sua análise começa pela comparação do ofício sacerdotal da linhagem de Levi e o sacerdócio da ordem de Melquisedeque, que não tem princípio de dias, nem fim de vida, semelhante ao Filho de Deus (Hb 7.3). A conclusão óbvia que o autor da carta aos Hebreus chega é que o sacerdócio segundo Melquisedeque é infinitamente superior ao sacerdócio levítico (Hb 7.15,16,22). E Jesus, complementa o autor, é “sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 7.17).
É evidente, então, que diante de tamanho sacrifício oferecido por Jesus, que é sumo sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque, “o mandamento anterior”, isto é, do sacerdócio levítico, “é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade” (Hb 7.18), pois a antiga lei não aperfeiçoou a nada, mas o Filho é para sempre aperfeiçoado (Hb 7.19,28). Ademais, o autor tece mais uma comparação fatal ao antigo sistema de sacrifícios: um sumo sacerdote segundo a Lei tem seu sacerdócio limitado, pois a morte o impede de continuar; mas Aquele que não tem fim de dias tem seu sacerdócio perpetuamente e intercede por seu povo para sempre (Hb 7.23-25).
A nossa salvação, portanto, só está segura se o nosso sumo sacerdote vive para sempre, pois só assim Ele pode nos salvar perfeitamente, intercedendo diante de Deus (Hb 7.25). Qualquer sumo sacerdote eleito no meio da Igreja hoje não tem poder para interceder por nós, muito menos para nos salvar. Nenhum homem pode tomar este ofício hoje (1Tm 2.5). O nosso sumo sacerdote é Jesus Cristo “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime que os céus” (Hb 7.26). Toda tentativa de representação de um sumo sacerdote hoje é querer viver pela Lei que foi ab-rogada devido à sua fraqueza e inutilidade.
A Igreja de Jesus tem “um sumo sacerdote tal, que se assentou nos céus à direita do trono da Majestade, ministro do santuário, e do verdadeiro Templo, que o Senhor fundou, e não o homem” (Hb 8.1,2). Só mesmo mentes diabólicas, como a dos judaizantes, tentariam anular o sumo sacerdócio de Alguém que está à direita do Pai no Templo celestial, a fim de instaurar o sumo sacerdócio de um pecador miserável aqui na Terra. Voltar a viver pela Antiga Aliança depois de tamanha revelação de Deus, adverte o autor da carta aos Hebreus, é crucificar novamente o Filho de Deus, expondo-O ao vitupério, e para estes já não há mais esperança (Hb 6.4-6).
“Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma expectação terrível de juízo, e um ardor de fogo que há de devorar os adversários” (Hb 10.26,27). Desprezar a Nova Aliança é pisar o Filho de Deus, e ter por profano o sangue do pacto e ultrajar o Espírito da graça. Em outras palavras, desprezar o sumo sacerdócio de Jesus é um pecado contra o Pai, que enviou a Jesus, contra Jesus, que morreu por nós, e contra o Espírito Santo (Hb 10.29). Certamente, tais pessoas não escaparão do juízo vindouro, pois Deus é vingador do mal e, por isso, “horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.30,31).
A Igreja não pode se calar. Não podemos tratar tais coisas com leviandade. Diante de tal afronta a Deus, nossa obrigação como cristãos é levantar a nossa voz e denunciar tal blasfêmia. “E quando alguma pessoa pecar, ouvindo uma voz de blasfêmia, de que for testemunha, seja porque viu, ou porque soube, se o não denunciar, então levará a sua iniquidade” (Lv 5.1). Que Ele use esta denúncia para trazer arrependimento e quebrantamento sobre a Igreja Brasileira. Que Deus tenha misericórdia de nós!