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Apesar de aparentar ter uma vida perfeita, Steve Austin estava desesperado a ponto de tentar tirar a própria vida.

Quem conhece Steve Austin, sabe o quanto ele é alegre e empolgado com seus projetos. Sua vida parecia ir muito bem. Sucesso acadêmico, uma bela esposa e mantinha seu ministério de pregação com uma agenda sempre lotada. Mas por dentro, ele estava desesperado.

O passado do evangelista insistia em incomodar sua mente. Atormentado pela depressão e problemas relacionados com um abuso sexual que sofreu quando criança, Steve chegou ao fundo do poço. Foi por meio de uma overdose que ele tentou se matar. Mas, Deus já sabia que aquele não era o fim para o então pastor.

Hoje, depois de superar essa fase tão difícil, Steve procura ajudar outras pessoas que sofrem com os mesmos problemas. Ele conta sua jornada no livro “From Pastor to a Psych Ward: Recovery from a Suicide Attempt is Possible” [“De pastor a um psicótico: é possível se recuperar de uma tentativa de suicídio”, sem versão no Brasil]. O líder falou sobre sua motivação em escrever a obra durante uma entrevista para o site americano Hello Christian.

“Eu acho que qualquer um que diz que quer se matar, está mentindo. Eu não queria me matar. Eu só queria parar com aquela dor, a paranoia, a depressão, o vício. Se aquelas coisas desaparecessem, eu poderia ser curado”, ressaltou ao ser questionado sobre sua tentativa de suicídio.

“Eu nunca teria considerado a morte. Fui criado em um ambiente cristão em meio a orações de fé e cura, óleo na testa e pessoas caindo no espírito. Mas, nunca me contaram sobre aconselhamento ou terapia. Tomar medicação para isso me faria ser menos cristão. Ou eu era cristão ou eu era ‘louco’. Mas os dois eu não poderia ser”, disse.

“Eu estava fingindo. Fingindo vida, fingindo confiança, fingindo que tudo estava bem. Ninguém conhecia as profundezas do meu desespero. Ninguém suspeitava que aquele líder de jovens da igreja desejava morrer, porque ele estava tão envergonhado de seu próprio abuso sexual na infância. Ninguém sentiu a umidade do meu travesseiro encharcado de lágrimas enquanto eu pedia a Deus, noite após noite, para me curar do meu vício em pornografia”, confessou.

“Eu continuei fingindo que estava bem, até que eu quase morri. Eu permiti que as pessoas observassem apenas o cara que estava sempre na ativa. O bom marido, uma grande personalidade, um cantor. Todo mundo achava que eu estava no topo do mundo. Ninguém sabia que o mundo inteiro estava pesando sobre mim. A vergonha é um silenciador, e eu estava convencido de que ninguém iria entender ou ouvir sobre a minha loucura. Como pastor, eu estava morrendo de medo da minha imagem perfeita ser quebrada”, contou.

 

“Eu não desisti de você”

“Um dia, quando eu estava na UTI, ouvi Deus sussurrar no meu ouvido: ‘Você sabe que eu não desisti de você, não sabe?’. A partir daí, a graça de Deus parecia ser minha melhor amiga. Eu admiti para a minha esposa que precisava de ajuda psiquiátrica e comecei com a terapia e aconselhamento”, disse.

“Nos últimos quatro anos de recuperação, eu aprendi que Deus não é como um ‘Papai Noel celestial’. Deus não está tão preocupado com quem está na ‘lista de perfeição’. A graça não se limita a colares ou cruzes de ouro que ficam pendurados sobre os pescoços de velhinhas. A graça está disponível a cada segundo, de cada minuto, para cada ser humano. Ela quer sarar nossas feridas, curar nossos corações e nos aceitar como somos. A graça mudou a minha vida”, contou.

 

O crente e a ciência

Em seu livro, Steve relata que seus pais se recusaram a visitá-lo no hospital depois que ele tentou tirar a própria vida. “Por que tantas pessoas tem medo de lidar com aqueles que sofrem de doença mental?”, questiona a reportagem do site Hello Christian.

“Eu sou de uma igreja cheia do espírito, onde acreditamos na unção de óleos e orações de fé. Neste meio, a medicação para problemas emocionais não é bem aceita. Eu posso falar sobre o vício, mas se eu falar sobre a medicação para a doença mental, uma equipe de pessoas se prepara para expulsar um demônio”, disse.

“Mesmo bem-intencionados, pastores oferecem uma oração de fé em convite ao altar e vai dizer que Deus pode ‘curar as mentes’ das pessoas com ansiedade e depressão. Mesmo que Deus possa, esse tipo de conversa só nos faz querer fugir de volta para as sombras e desaparecer. A cura soa tão grande, mas as tentativas da Igreja de incentivar a cura, realmente causam uma vergonha ainda maior para uma pessoa que já entende que precisa de tratamento médico”, ressaltou.

“Quero que as pessoas saibam que não há problema em ter algo assim. E que mesmo um pastor como eu, já me encontrei em tempos de desespero, onde eu precisava de algo como um cochilo e medicina forte. Um bom choro e um amigo que pudesse aliviar minha carga por um tempo”, concluiu Steve.