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Quando eu era um jovem pastor, estava ansioso para encontrar e replicar modelos de ministério dignos. Fui atraído pelo movimento de crescimento de igrejas. Eu admirava o zelo “ganhador de almas” dos praticantes que aconselhavam jovens pastores como eu a moldar seus cultos de domingo para que o “seeker” [“buscador”, alvo das igrejas seeker-sensitive] não tropece nos obstáculos feitos pelo homem em seu caminho para encontrar Jesus.

Enquanto eu absorvi muitas dessas lições – comunicação clara, excelência ministerial, divulgação na comunidade – comecei a ter algumas dúvidas sobre uma abordagem que molda a reunião de domingo exclusivamente em torno do incrédulo. Eu digo “exclusivamente” porque cada pastor deve ter, em sua mente, a imagem de uma alma perdida quando ele sobe ao púlpito para pregar. Ele não deve assumir que seu público é inteiramente composto de crentes, e sua pregação deve ser clara o suficiente para que o perdido saiba como se arrepender e crer. Paulo aconselhou Timóteo a “fazer o trabalho de um evangelista” depois de tudo (2Tm. 2:5).

Há, no entanto, três questões vitais para perguntar-nos sobre os nossos cultos de adoração.

 

O que está acontecendo nas noites de domingo?

De acordo com a filosofia padrão de crescimento da igreja, o encontro de domingo é a oportunidade privilegiada para convidar amigos e vizinhos incrédulos para ouvir uma apresentação do evangelho. Para tornar o culto atraente, igrejas são encorajadas a eliminar as barreiras que possam ofender aqueles que não são fluentes no vocabulário cristão.

Esta não é uma disciplina totalmente ruim. Afinal, nossas igrejas não devem ser contextualizada à década de 1950 se estamos vivendo em 2016. Devemos vagamente considerar as preferências a fim de alcançar as nossas comunidades para Cristo (1Co 9:19), e devemos sonhar, planejar, traçar estratégias e gastar recursos para alcançar os perdidos.

Mas a atratividade ao perdido deve ser nosso princípio orientador principal nas tardes de domingo? Se assim for, perdemos o propósito distinto para reunirmo-nos com os santos? Esquecemo-nos que nenhuma quantidade de contextualização fará o evangelho inofensivo? Em seu discurso no Cenáculo, Jesus advertiu seus discípulos sobre a natureza contracultural da sua mensagem. E Paulo sabia, mesmo depois de fazer-se “de tudo para com todos”, que o evangelho que ele pregava seria uma pedra de tropeço, em última análise levando-o a prisão e à morte.

Além do mais, em nossa sociedade cada vez mais pluralista, me pergunto se estas metodologias de crescimento da igreja vão se tornar menos eficazes. Estudos indicam que os americanos estão menos inclinados a participar de cultos do que eram em gerações anteriores.

Devemos nos perguntar: Como enxergamos a reunião de domingo? Enxergamos como uma inspiradora palestra do TED com boa música? Ou enxergamos pela forma como o Novo Testamento enxerga, como chamado de Deus para reunir pessoas para adoração e mobilização para a missão? Estilos de música e padrões de pregação irão variar, mas alguns elementos devem permanecer fixos. Paulo instruiu Timóteo, como o pastor da igreja em Éfeso, a “dedicar-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino” (1Tm 4:13). Ele também instruiu a mesma igreja a cantar “salmos, hinos e cânticos espirituais” (Ef 5:19). Nosso Senhor Jesus confiou à igrejas locais os sacramentos do batismo e da ceia do Senhor.

Não devemos estar constrangidos pela linguagem cristã e pelo padrão da reunião domingo. Devemos nos reunir com o objetivo expresso de declarar para o mundo, para nós mesmos e para os poderes cósmicos nossa adoração a Cristo como Rei.

 

Quem está escrevendo a liturgia?

Para alguns evangélicos, a palavra “liturgia” evoca um tradicionalismo abafado em desacordo com a fé genuína em Cristo. Mas cada igreja tem uma liturgia, uma maneira de ordenar o seu culto de adoração. E a liturgia de cada igreja comunica muito sobre o que ela valoriza.

Esta é outra razão para se preocupar com uma abordagem que prioriza a reunião de domingo para pessoas não salvas. Em essência, isso faz do “buscador” não regenerado o líder de adoração encarregado de escrever a liturgia. Alguém que não tenha sido redimido pelo Espírito de Deus está determinando quais práticas e padrões espirituais o corpo de Cristo vai abraçar quando eles se reúnem para adoração.

No ano passado fui a um jogo de futebol americano da faculdade em Nashville com alguns amigos. Fui convidado por um colega que é aluno e grande fã. Ocorreu-me, enquanto eu estava sentado na seção do seu time, que eles realmente não se importaram em como seus rituais particulares me afetaram, como um “de fora”. Eles eram simplesmente orgulhosos de sua equipe e queriam que todos, inclusive eu, a conhecessem. Isto não era ofensivo; era atraente. O que havia sobre sua universidade que tanto motivou-os a perder-se na celebração de um jogo de futebol?

A base de fãs leais abraçou-me, mas não me permitiram determinar sua liturgia de dia do jogo. A banda não tocou música mais receptivas às minhas preferências. As cheeerleaders não criaram uma rotina genérica que eu poderia entender. Os fãs não usaram roupas genéricas para que eu me encaixasse.

A experiência me fez pensar: Por que nossos cultos devem ser diferentes? O buscador que entra pelas portas da nossa igreja deve ser bem-vindo, amado e servido. Devemos trabalhar para declarar o evangelho a ele numa língua que ele compreenda. Mas deixar de lado os padrões do culto cristão comunica um constrangimento sobre o que nós reivindicamos ser mais importante.

 

Qual é a tarefa do pastor?

Nós também devemos perguntar: qual é o papel do pastor? Pedro parece definir isso muito especificamente quando exorta pastores a “pastorear o rebanho de Deus que está entre vós.” Isso tem duas implicações importantes.

Em primeiro lugar, o principal papel do pastor é expor a Palavra de Deus e alimentar o povo de Deus. Podemos realizar essa tarefa pesada, se nossas mensagens são conversas inspiradoras com pouco conteúdo bíblico? As pessoas crescerão na semelhança de Cristo se o buscador estiver escrevendo nossos sermões?

Em segundo lugar, Pedro assume que a audiência primária do pregador são os cristãos. Pastorei alimente o rebanho de Deus que está entre vós. Devemos sempre oferecer oportunidades para o buscador se arrepender e crer, mas o nosso primeiro trabalho é “pregar a Palavra” (2Tm 4:2) para as pessoas que ele soberanamente tem colocado sob nossos cuidados, aqueles pelos quais daremos conta (Hb 13:17).

Isso nos diz sobre como a Grande Comissão é principalmente realizada: através do discipulado do povo de Deus e sua mobilização para a missão evangelística em suas comunidades. Isso não quer dizer que igrejas não devem receber eventos especiais e atraentes ao “seeker” [o que busca]. Mas isso não deve ser o objetivo principal do nosso encontro de domingo. Caso contrário, vamos ter igrejas cheias de pessoas que se alimentam de leite em vez de carne, mal equipadas para evangelizar e incapazes de aplicar o evangelho em meio a mudanças nas correntes culturais.

Em outras palavras, precisamos confiar que a Palavra de Deus, entregue com o poder de Deus, fará o seu trabalho nos corações do povo de Deus, uma vez que reverbera através deles e no mundo de Deus. Lembro-me das palavras de Paulo aos cristãos de Corinto:

“E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês. Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1Coríntios 2:3-5)

Original: Don’t Let Non-Christians Write Your Liturgy

Tradução: Pedro Pamplona