Não existe amor maior que o de mãe, diz o ditado. Mas a realidade insiste em nos mostrar que o pecado mancha todas as coisas, inclusive o amor materno. E isso pode ser feito da maneira mais cruel possível. Parece que o ódio materno também não encontra rival.
Em Brasília, uma mãe e sua companheira mataram Rhuan Castro, de apenas 9 anos. Não se trata, porém, de um “simples” caso de filicídio. Os detalhes do caso são muito mais cruéis. Em 2015, a mãe fugiu do Acre levando Rhuan, alienando-o do convívio com seu pai. Ele não foi matriculado na escola e era vítima de maus-tratos. Acreditando que Rhuan era uma menina, a mãe e a companheira extirparam o membro viril da criança em casa. O próximo elo da corrente de horrores foi o assassinato e o esquartejamento do cadáver.
Uma pergunta inevitável surge nessas horas: como pode? O que explica que uma mãe faça isso? Seria um caso de loucura, de doença mental? Não sou psiquiatra e não posso dizer se é esse o caso. Mas é possível traçar uma linha entre cada episódio desses casos e a ideologia de gênero ou o politicamente correto.
O ódio ao masculino
O que podemos ver no filicídio de Brasília e no politicamente correto é uma espécie de misandria, ou seja, o ódio ao masculino. Não é à toa que o termo “masculinidade tóxica” surgiu e virou até peça de propaganda da Gillette. Aliás, o comercial resume bem a visão contemporânea da masculinidade: o homem é violento e briguento, sempre sedento por sexo, assediador de mulheres e preconceituoso. Embora não possamos negar que muitos homens sejam assim, esse retrato é reducionista e parece não ver mérito algum na masculinidade.
E essa guerra ao masculino não é nova. Já no ano 2000, o “The Atlantic” falava sobre a “Guerra Contra Os Meninos” nas escolas americanas. Hoje, nos EUA, comportamentos masculinos como brincar de luta de espadas ou de bangue-bangue já foram motivos para chamar os pais para conversas com diretoras de escola. O feminino tornou-se o padrão desejado na educação americana.
Voltando para o Brasil, parece que o grande problema de Rhuan era ser homem. Enquanto a mãe de Rhuan fugiu com o filho, a companheira fugiu com a sua filha. Contudo, as agressões físicas, a emasculação e o homicídio foram apenas para Rhuan. Por quê?
Alienação parental
Outro traço que chama a atenção é a alienação da figura paterna. É lugar comum no feminismo contemporâneo dizer que os pais são omissos, e que as mães é que criam os filhos. Sim, isso acontece. Mas, neste caso, as mães é que impediram os pais de terem acesso aos filhos.
Isso tem nome: alienação parental. Clicando no link, Eva-Delgado Martins explica que se trata do “ato de levar a criança a abandonar o pai ou mãe que é alvo de críticas, através de comportamentos de menosprezo, ódio, com frequentes acusações de abuso sexual, influenciados pelo outro elemento do par parental”. Ainda segundo Delgado-Martins, a alienação é “uma forma grave de maltrato psicológico e abuso emocional infantil”, é “uma violação do direito das crianças ao contacto livre e saudável com ambos os pais”. O que foi feito pelas mães foi ainda mais grave, porque houve o rapto dos filhos.
A alienação parental é filha direta de outro problema que enfrentamos: o divórcio. Basta uma simples googlada na Internet para saber que não faltam pais, do sexo masculino, que querem participar da criação de seus filhos, mas são privados disso pelas mães. Chega a ser clichê a história da mãe que usa o filho como uma forma de atingir o ex-marido. Quando a sociedade endeusa o comprometimento materno e sempre retrata os pais como ausentes, indiretamente, ela reforça essa alienação.
Transgenderismo infantil
Por fim, é preciso tratar da desculpa dada pela mãe para justificar a castração de seu filho. De acordo com a filicida, “para ela e a companheira, o menino queria se tornar uma menina.” A solução caseira é a mesma que tem sido oferecida pela esquerda americana e europeia: o tratamento ou até a cirurgia infantil de mudança de sexo.
Em um outro caso que combina misandria, alienação parental e transgenderismo infantil, uma mãe americana processou o pai do filho, porque o pai protestava pelo fato da mãe vestir o filho como uma menina. A idade do menino era de apenas seis anos de idade. Na casa do pai, o menino nunca se identificava como menina e se vestia como homem. Mas há gente “transicionando” com 5 anos de idade. É a incoerência do adolescente de 17 anos de idade não poder fumar, mas uma criança de 5 escolher mudar de sexo.
Cristo e a redenção do masculino
Nos Estados Unidos, se não houvesse a morte, talvez a mãe de Rhuan fosse vista como uma heroína feminista. Afinal, misandria, alienação parental e transgenderismo infantil são impostos como algo normal pela esquerda americana. A esquerda brasileira já tem disseminado essas ideias via novelas, universidades e escolas. E, infelizmente, muitos homens têm contribuído para isso com um modelo deficiente de masculinidade.
Reverter esse quadro é algo que só é possível em Cristo Jesus. Primeiro, porque Jesus não apenas encarnou-se como um ser humano, mas também como macho. Um dos títulos atribuídos a Jesus é “Filho de Davi”, e o rei Davi foi um homem guerreiro, ao mesmo tempo cheio de coragem e de amor. A masculinidade bíblica inclui essas duas qualidades, e não é uma masculinidade efeminada.
Jesus também nos ensinou a chamar Deus de Pai. Apesar do imaginário católico romano supervalorizar a figura de Maria, a Bíblia mostra José participando da criação de Jesus e governando o próprio lar. Tanto na esfera humana como na espiritual, Jesus mostra a paternidade como algo essencial e valorizado.
Nem o transgenderismo escapa da cruz de Cristo. Jesus trouxe aceitação para pessoas que eram rejeitadas na sociedade: mulheres, enfermos e pobres. Ele também trouxe mudança e aceitação para pessoas desprezadas por causa de seus pecados: prostitutas e publicanos. O caminho para se aceitar e para mudar o que realmente precisa ser mudado é Jesus. N’Ele encontramos uma solução melhor do que o transgenderismo.
Helder Nozima Pereira é bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano de Brasília (SPB) e em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, trabalha como oficial de chancelaria e é mestrando em Estudos Bíblicos pelo Reformed Theological Seminary (RTS), em Nova York. Fundador e editor do blog Reforma e Carisma.