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O fato é que a nossa teologia corre sério risco de ficar presa no campo das ideias e não descer para o coração. Uma teologia presa ao intelecto, redunda numa fé morta, que não gera frutos e não pode ser vista por meio de obras. É preciso que estejamos constantemente alertas, a que nossa teologia não nos transforme em cristãos calculistas de coração árido, que transformaram a caminhada com Jesus numa espécie jogo chato de cartas marcadas.
Tenho andado bastante preocupado com essa experiência puramente racional da fé cristã. Ademais, minha abordagem não vai somente na direção daqueles que muitas vezes exageram por serem demasiadamente frios, teológicos e racionais, estou falando de um modo geral, pra gente comum, estou falando sobre mim e pode ser que esteja falando até mesmo sobre você.

Por vezes, tenho a impressão de que toda a esperança que exala dos ensinos bíblicos para o homem, principalmente quando estamos em meio ao sofrimento, fica enclausurada no âmbito religioso da nossa experiência cristã. Fica presa no domingo, no culto, na leitura, na oração e no sermão. Não desce para realidade da segunda-feira de manhã. É uma esperança bela, estudada e aclamada, porém desconectada da vida real, uma esperança no porvir que não tem desdobramento ou influência nenhuma no aqui.

Temo estarmos vivendo uma fé distante, que faz sentido para a cabeça, mas não para o coração.

Uma fé que não confere a nós segurança, alívio, descanso e confiança real de que temos alguém que olha por nós não apenas ali e além, mas aqui e agora. Essa fé tão bela que testemunha a maior vitória da história humana sobre a morte e sobre o sofrimento parece não ganhar forma na nossa experiência cotidiana, frente aos desafios que todos os dias temos de enfrentar. Julgo que conectar estas duas pontas é o nosso maior desafio.

Não são poucas as vezes que tenho testemunhado o sofrimento batendo à porta de meu próprio coração, de forma que minha reação destoa por completo de um comportamento que é fruto de uma vida firmada na certeza de que Deus continua sendo Deus e nada sai do controle de suas mãos.

Tenho procurado me arrepender desse tipo de reação, pois ela não é digna do Senhor nem de Sua Palavra. Ela revela apenas como muitas vezes podemos estar entretidos com uma fé ilusória e teórica, que precisa ser arrancada pela raiz da nossa experiência com Deus para que a fé verdadeira, que não anda por vistas, mas no poder do evangelho, entre em nossos corações e faça morada definitiva.

Outra possibilidade à qual temos de estar atentos é quando transformamos nossa caminhada cristã em uma espécie de ativismo em favor de justiça social e do próximo, mas ao mesmo tempo estamos com o coração completamente bagunçado, distante de Deus, fingindo uma espécie de engajamento no Reino quando, na verdade, estamos mesmo é correndo o mais rápido possível para longe da realidade feia que estamos vivendo. Esse definitivamente não é o caminho.

A prática do amor ao próximo deve ser resultado de um coração seguro e descansado na provisão do Senhor, e não uma fuga desequilibrada de quem busca alívio de suas aflições na força de suas próprias ações.

Confesso que não tenho uma fórmula pronta para indicar aqui. O texto talvez seja apenas uma oração para que Deus fortaleça e amadureça a nossa fé, de modo que ela transcenda o intelecto, o domingo e a religião vazia — não a verdadeira — transformando-se em algo palpável e evidente a cada momento de nossas vidas, principalmente naqueles onde a dor e o sofrimento mais predominam.

Que nessas horas ela faça de fato sentido e seja visível, que paremos de correr para outros braços, outros fundamentos, outras ideologias. Que as lágrimas de desolação e incerteza deixem de ser nosso porto seguro e que a fé no Cristo de Deus, soberano vencedor sobre todas as coisas, aquiete nossos corações na certeza inabalável de que Ele é nosso pastor e absolutamente nada nos faltará!

Que sejamos testemunhas fiéis de que Cristo verdadeiramente vive em nós! Seja Ele a verdade plena de todos os dias em nosso coração e a luz que ilumina a esperança viva no caminho tantas vezes obscurecido e confundido por toda essa escuridão.

Que Deus nos alcance!

Lucas Freitas é plantador da Igreja Presbiteriana do Brasil na cidade de Cunha/SP, é bacharel em teologia pela FUNVIC – Fundação Universitária Vida Cristã em Pindamonhangaba/SP, é formado no SEDEC – Seminário de Desenvolvimento Comunitário pelo CADI Brasil, na Escola Compacta pela Missão Steiger Brasil e no CTM Centro de Treinamento Missionário da Igreja Presbiteriana do Brasil.