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Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; [Rm 1.16]

O verso acima sempre mexeu sobremaneira comigo. A expressão da glória da intensidade do poder do Evangelho contida neste verso é algo que nos escapa a compreensão. Imaginar que esta impressionante mensagem do nascimento, vida, morte e ressurreição de Cristo, graciosamente revelada a nós nas páginas das Escrituras Sagradas, condensa o poder da Majestade Divina, é assustadoramente impressionante, ou pelo menos deveria ser.

Pensemos em toda imponência da criação, em toda sua beleza, força, complexidade, fulgor, harmonia e exuberância. Pensemos na glória eterna da Trindade que nos é revelada ainda que timidamente ao observarmos tudo isso. Pensemos na cruz, nos milagres de Jesus, no consolo do Espírito Santo e no amor de Deus Pai que entrega seu Filho Eterno e Unigênito para morrer no lugar de gente rebelde e desobediente como eu e você. O Apóstolo está afirmando que o Evangelho que nos foi revelado e no qual cremos, é nada mais nada menos, que a expressão fidedigna de todo este poder! Toda esta força está condensada ali.

Ora, gente! Definitivamente. Não há algo mais importante e impressionante do que isto! Não há nada mais poderoso, eficaz e sublime do que o Evangelho de Cristo Jesus. Não há mensagem mais significativa e eficaz, cativante e impressionante, a ser anunciada. Nada há com o que o ser humano deva se ocupar mais em conhecer e desfrutar do que o Evangelho de Jesus. Todavia, me parece que temos nos perdido quanto à compreensão e ao discernimento desta realidade.

Não é incomum que nossas igrejas apresentem constantemente – isto quando apresentam – a mensagem do Evangelho apenas como uma porta de entrada para a vida com Deus, como se o Evangelho fosse apenas um portal que levasse-nos a lugares mais importantes da caminhada cristã. Não é incomum que o Evangelho fique escanteado de nossos púlpitos, como uma mensagem reduzida apenas aos que não creem, aos visitantes, aos iniciantes na fé, de modo que aqueles que já o compreenderam (?) e receberam a Cristo como Senhor de suas vidas, agora devessem ocupar-se de estágios mais elevados da carreira cristã.

E quais estágios seriam estes? É exatamente neste ponto que corremos o trágico risco de erigir ídolos que nos afastam da vida que glorifica a Deus. Ídolos que insolentemente colocamos no lugar do belíssimo Evangelho da graça de Cristo, como por exemplo, a busca por um estágio espiritual superior, por um cargo de expressão ou um lugar de evidência na vida da igreja, um dom espiritual, crescimento e sucesso financeiro, realizações pessoais tais como casamento, vida acadêmica, curas, e inúmeros outros objetivos, que se vividos à parte do Evangelho, nos farão desobedecer flagrantemente a Deus e Seu primeiro mandamento revelado a nós em Êxodo 20.3.

Todas estas coisas citadas acima podem ser muito positivas e abençoadoras, aliás, não só o que foi citado acima, mas todos os campos e atividades da vida humana podem ser positivos e frutíferos se vividos para a glória de Deus. Entretanto, o que sustenta uma vida vivida para a glória de Deus é a consciência constantemente submetida ao Evangelho.

O Evangelho é o poder de Deus para nossa salvação, nossa salvação se faz necessária por causa de nossa idolatria manifestada contra Deus, refletida nos pecados que cometemos. Pois bem, salvação não é apenas um aspecto passado ou futuro de nossa caminhada com Deus, antes, também é um aspecto do presente, que está se estabelecendo em nossas vidas através do processo de santificação. Ao nos depararmos cotidianamente com nossos pecados, é o Evangelho que sempre nos ajuda neste processo e nos aponta o caminho de arrependimento e retorno a Jesus.

Assim sendo, se trocarmos displicentemente o Evangelho por outros aspectos da vida cristã supostamente mais importantes, nosso senso de pecaminosidade e idolatria ficará comprometido, e possivelmente, passaremos a pecar com mais facilidade e licenciosidade, afinal, não será mais a glória de Deus revelada no Evangelho que nos interessará primariamente, mas nossos próprios objetivos pessoais. Isso nos transformará em falsos cristãos muito mais preocupados com a glória de nossas próprias realizações do que com a glória de Deus.

É o Evangelho que denuncia o coração idólatra. É o Evangelho que resguarda a consciência que se pretende santa. É o Evangelho que nos mantém cônscios do amor de Deus por nós mesmo nos momentos em que mais nos sentimos sujos. Por isso mesmo, o Evangelho jamais deve deixar de ser pregado do alto de nossos púlpitos, nem deve deixar de ser lapidado e alimentado como o tesouro de mais estimado valor de nossos corações, acima de quaisquer aspirações pessoais ou institucionais.

Não carecemos do poder e da eficácia da mais exuberante mensagem da história da humanidade em nossas vidas, apenas quando estamos nos primeiros passos da carreira cristã, antes, carecemos e careceremos do Evangelho ao longo de todos os dias de nossas vidas, pois, em todos os dias de nossas vidas, arrependimento e fé nos serão necessários.

Minha oração é para que o Espírito Santo agracie-nos dia após dia com a capacidade de nos fascinarmos com o poder e com a beleza do Evangelho, com a sabedoria de internalizarmos deslumbrados seu insubstituível significado, a ponto de que jamais percamos de vista nossa necessidade constante de exame pessoal e arrependimento diante de Deus. E que Cristo, não os ídolos, seja sempre o único alvo de nossa esperança de redenção, realização e contentamento, tanto aqui e agora, como ali e além.

Que Deus nos alcance!

Lucas Freitas é plantador da Igreja Presbiteriana do Brasil na cidade de Cunha/SP, é bacharel em teologia pela FUNVIC – Fundação Universitária Vida Cristã em Pindamonhangaba/SP, é formado no SEDEC – Seminário de Desenvolvimento Comunitário pelo CADI Brasil, na Escola Compacta pela Missão Steiger Brasil e no CTM Centro de Treinamento Missionário da Igreja Presbiteriana do Brasil.