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Eu comecei a namorar com 24 anos. É uma história de amor inusitada, mas ao contrário do que se pode pensar, não tão incomum. Durante os 24 anos de “preparação” para esse momento, eu pensei, senti, orei, imaginei, sonhei acordada (e dormindo também), conversei, debati, investiguei, analisei. E tudo isso me fez chegar ao dia 13 de julho de 2015 com incontáveis ideias, expectativas e certezas. Só que havia um problema com elas:

Elas ainda não haviam encontrado a realidade.

Quando esse encontro finalmente aconteceu, houve choque, dúvida, conflito. E uma das mais inesperadas surpresas que vieram com o “Sim, vamos namorar” foi uma dificuldade inerente de ser misericordiosa com o objeto do meu amor. Não me levem a mal: este não é um caso de jugo desigual ou pais contra o relacionamento. Tudo está nos conformes, exceto a realidade de que ele não é o rapaz sem rosto que eu imaginei durante 24 anos.

O “Sim”, seja a um pedido de namoro, noivado ou casamento, significa muito mais do que um “Eu te amo” diário. Ele também quer dizer “Você não é totalmente como eu imaginei”. E, a partir desse momento, há um pedido (na verdade, uma ordem) para que sirvamos, suportemos e tenhamos misericórdia e graça para com aqueles que dizemos amar. Sim, “dizemos”, pois muitas vezes esse amor fica apenas na mensagem do WhatsApp antes de dormir.

Papeis para o mal

Conhecer os papeis do homem e da mulher no casamento (e como seres humanos em geral) é uma exigência que todo cristão deve cumprir. Só que nosso coração pode transformar esse precioso conhecimento em pecado, nos fazendo achar que somos mais sábias, mais inteligentes, mais “crentes” ou superiores a alguém por “dominar” esse assunto, e, dentre as principais vítimas da nossa arrogância, está o nosso amado. Nosso coração está tão imerso em si mesmo que passamos a achar que o parâmetro somos nós, então se meu companheiro está fazendo aquém do que eu costumo fazer, que homem falho que ele é, não é verdade?

A nossa insatisfação vem, muito mais, do pecado do nosso próprio coração do que das falhas dele.

E é justamente por isso que é tão difícil sermos misericordiosas, graciosas e compassivas com nossos amados. Estamos constantemente insatisfeitas com seus defeitos e achando que eles nos devem alguma coisa por serem assim, então obviamente a única coisa a se fazer é julgar, criticar e reclamar, afinal, eles estão errados, eles precisam de conserto urgentemente… E enquanto nos deixamos levar por esse pecado, muitos outros estão escondidos em nosso coração e não os tratamos, não nos arrependemos e nem buscamos melhorar.

É bom que toda moça cristã deseje um esposo sábio, maduro na fé e capaz de lhe liderar em amor no casamento, mas… assim como você nem sempre será submissa e respeitosa, ele nem sempre saberá liderar. Ou organizar o culto doméstico. Ou lhe dar o melhor conselho. Ou ser o companheiro todo-poderoso com o qual você um dia sonhou. Antes de conhecermos nosso amado, pensamos que estamos desejando o melhor “para a glória de Deus”, mas esse melhor, na grande maioria das vezes, na verdade é uma forma de dizer:

O melhor para mim é o que não me traga conflitos, dor ou sofrimento de qualquer forma.

Força para ser misericordiosa

O “melhor”, para nós, significa segurança, conforto, comodidade, alegria 24 horas por dia e um companheiro que atenda a cada uma das nossas infinitas expectativas. Só que isso nunca esteve na agenda do Senhor. A intenção de Deus nunca foi que você não sofresse em seu relacionamento, e sim, que você crescesse de várias maneiras, e isso sim irá glorificar o Seu Santo Nome. O que Ele deseja é um relacionamento que te faça amadurecer e, assim, te torne mais parecida com Cristo. E quer maneira mais prática de fazer isso do que quebrando cada uma de suas expectativas equivocadas?

Acredito que se pedirmos a Deus para nos deixar mais conscientes sobre nosso pecado, consequentemente focaremos menos no pecado do outro e ainda teremos mais sabedoria para tratar as falhas e defeitos dele quando isso se fizer necessário. Nossa luta é contra o pecado, não contra quem dizemos amar. Devemos suplicar para que o Senhor tire de nosso coração a idolatria pelas nossas próprias idealizações e expectativas e transforme isso em amor por quem nosso amado realmente é, com todas as suas falhas e imperfeições. E, se realmente os amamos, seremos pacientes e tudo suportaremos.

[Inspirado no texto Give Your Suitor Some Grace]

Manuela Moraes é uma recifense de 26 anos formada em Comunicação Social e Administração de Empresas. Ama falar sobre o Evangelho na Internet e faz isso através do Dois Dedos de Teologia e do seu canal também sobre Teologia, o Manuela Moraes. Canta no Ministério de Jovens da Igreja Presbiteriana das Graças e é calvinista por paixão e por opção de Deus.