Infelizmente, uma parcela considerável da igreja cristã contemporânea, através da superestimação do entretenimento e até mesmo da bajulação, está contribuindo para que nossos jovens tornem-se imaturos, irrelevantes, infantis, descompromissados com Deus e Sua palavra, e a terem uma percepção da realidade da vida cristã um tanto quanto fantasiosa e até mesmo, banal.
Grande parte da liderança cristã passou a enfatizar e a ensinar que a relação entre o homem e sua comunidade de fé é algo muito mais pautado na busca por sensações, emoções, bênçãos individuais, diversão, relacionamentos e prazeres temporais. O importante hoje é a promoção de um ambiente ‘cool’ para chamar a atenção do jovem e segurá-lo na igreja custe o que custar.
Para tanto, negocia-se a mensagem, a forma de culto, o conteúdo das músicas, a centralidade de Cristo, e tudo mais que possa compor a experiência da pessoa que estará presente na igreja. O problema é que quando subestimamos a eficiência da pregação da mensagem do evangelho e passamos a buscar complementos que, supostamente, venham suprir as expectativas daqueles que frequentarão nossos cultos, estamos assumindo, ainda que inconscientemente, a insuficiência da cruz de Cristo e sua mensagem, para redenção de todas as necessidades da vida humana.
Fazendo mal na ilusão que estão fazendo o bem
Atualmente, inúmeras são as iniciativas por parte das igrejas de se reproduzir dentro de suas quatro paredes, programas outrora considerados ‘mundanos’. É possível se encontrar baladas, festas, música eletrônica, raves, filmes, comilança, danças e uma infinidade de artimanhas que, para poderem ser colocadas em prática com a consciência limpa, vêm devidamente aprovadas com o ‘selo gospel de qualidade’.
Estas iniciativas, a priori, podem parecer saudáveis, mas no fundo são tentativas de proteger a juventude do embate com o mundo real. Ao invés de estarmos forjando homens e mulheres a partir do evangelho bíblico, que terão consistência e capacidade para enfrentar os difíceis desafios que encontrarão na realidade da vida, estamos, infelizmente, cooperando para a produção e promoção de uma subcultura autocentrada, que não tem poder real de influência algum dentro da sociedade, e que gera pessoas que sabem viver apenas em seu próprio gueto, aspecto este completamente contrário a universalidade da fé cristã histórica.
É pertinente dizer que não há nada de errado em se promover atividades para jovens dentro das igrejas. Entretanto, temos de ter o cuidado de não trabalharmos na perspectiva de que estas atividades devam ser uma espécie de blindagem oferecida ao jovem em relação ao que ele encontra no ‘mundo’. Se não ensinarmos a estes moços e moças a beleza e a contundência da fé cristã para todos os lugares e aspectos da vida, teremos de continuar alimentando-os com a subcultura gospel que insiste em continuar fazendo paródia do showbiz em seu campo de atuação na sociedade.
Por quê?
Raras são as igrejas que incentivam os estudos, o aprofundamento teológico e filosófico, que indicam boa literatura e promovem discussões realmente relevantes para o público jovem cristão. Enquanto isso, em outros ambientes secularizados da sociedade como universidades, cursinhos e movimentos estudantis, jovens acumulam alto volume de leitura de autores ateus como Marx, Engels, Nietzsche, Gramsci, Freud, e a mais recente safra de neoateístas, que embora sejam muito mal aceitos na academia, têm balançado a fé de muita gente, como Christopher Hitchens, Sam Harris, Richard Dawkings e Daniel Dannett.
Esse tipo de prática atrasada da igreja resulta, por exemplo, na debandada de inúmeros jovens cristãos quando chegam à universidade. Como eles nunca foram alimentados consistentemente, e seus pastores e líderes nunca se preocuparam em lhes apresentar as grandes questões da vida a partir do prisma da fé cristã histórica, eles se rendem à primeira ideologia que lhes parece mais interessante e rompem quase que de uma vez por todas com toda aquela cortina de fumaça religiosa que habitava suas mentes.
É grave admitir, mas por que tanta gente dentro da igreja é irresponsável, é desorganizada, é displicente, tem senso estético pobre? Por que tanta gente trai, por que nossos políticos são os mais ausentes da câmara federal e nossos artistas sofrem preconceito dentro de suas comunidades quando cantam, pintam ou escrevem algo que não seja gospel?
Quando foi a última programação que você participou que incentivou a juventude cristã a pensar a ciência como sendo parte do senhorio de Cristo sobre todas as coisas, a fim de oferecer a comunidade científica contrapontos teóricos e técnicos fundamentados na fé cristã? Quando foi que incentivamos nossos estudantes de direito a lutarem por leis mais justas? E nossa reflexão política diante da infinidade de acontecimentos que tem sacudido a nossa república, a quantas anda? Quando foi a última vez que promovemos dentro de nossas igrejas, conversas, encabeçadas por especialistas cristãos, sobre homossexualidade, ideologia de gênero, perseguição dos cristãos no oriente médio ou a influência da psicologia no pensamento cristão do século XXI? Onde estão nossos professores que não se renderam ao ensino de ideologias anticristãs em sala de aula? Poderíamos enumerar uma imensidão de outras atividades, porém, indago algo ainda mais central: onde estão nossos pastores comprometidos e submetidos ao ensino fiel das Escrituras Sagradas, fundamento de toda ação cristã bem sucedida seja em que ramo da vida for? Enfim, por que o número de evangélicos é cada vez maior, mas ainda não conseguimos perceber nenhuma mudança real na atuação da igreja no Brasil?
Repensando o caminho
Todas as situações apontadas acima se devem, em grande parte, a falha da liderança da igreja na educação dos cristãos, principalmente quando ainda são jovens. Ao contrário do que muitos podem pensar, as atividades promovidas pela igreja não são intrinsecamente boas, elas podem muito bem ser destrutivas, negativas, mundanas e defraudarem a mensagem e abrangência do evangelho. Não podemos continuar incentivando a alienação e a busca desenfreada por entretenimento nas atividades que promovemos.
É momento de arrependimento, de busca por maturidade, de repensarmos as nossas bases teológicas e filosóficas. É momento de voltarmo-nos de todo coração a um compromisso firme com Cristo Jesus e sua Palavra. Blindar a juventude com ‘atividades legais’ dentro da igreja não é o caminho, nossa fé histórica exige que nossa proposta para o mundo vá muito além disso.
A igreja cristã não deve ensinar seus jovens a relativizarem o estudo e o aprendizado de boa teologia. A igreja cristã não deve subestimar o potencial de seus próprios jovens ensinando-os a subestimarem a mensagem genuína do evangelho de Cristo substituindo-a por crendices e métodos mundanos a fim de promover bem-estar e distração para gente que não está preocupada com mudança de vida, muito menos com a glória de Deus. Pelo contrário, com os pés fundamentados na rocha, a igreja deve andar na verdade que redime o pecado e promove transformação efetiva do coração do homem. Só assim estaremos contribuindo, de fato, para o crescimento, formação e fortalecimento da nossa juventude tão carente de referenciais, o que culminará, inevitavelmente, numa concreta e bíblica sinalização do Reino de Deus nos mais diversos campos da nossa existência. Seja Cristo, nossa força, nossa única esperança.
Que Deus nos alcance!
Lucas Freitas é plantador da Igreja Presbiteriana do Brasil na cidade de Cunha/SP, é bacharel em teologia pela FUNVIC – Fundação Universitária Vida Cristã em Pindamonhangaba/SP, é formado no SEDEC – Seminário de Desenvolvimento Comunitário pelo CADI Brasil e na Escola Compacta pela Missão Steiger Brasil.