O ano que acabou de findar me trouxe muitas reflexões a respeito de como a teocentricidade do ser humano está presente em todos nós, inclusive os descrentes. No Natal, percebi que a alegria e os bons sentimentos que invadem aquela época fazem parte do fato de que o homem foi feito à imagem e semelhança do Criador, logo, ele simplesmente não consegue não celebrar o fato de que tal Criador veio à Terra para trazer salvação e paz. Para o Ano Novo, percebi outros aspectos que explicarei a seguir.
O primeiro deles é que, definitivamente, o ser humano não sabe como lidar com o sofrimento, e a grande prova disso é que todos esperam que o ano seguinte seja melhor que o anterior. Ora, por que esse tipo de raciocínio acontece? Porque o sofrimento nos alcança em todos os anos e, diante da sua presença implacável e inevitável, só podemos desejar que, no próximo ciclo que se inicia, ele simplesmente saia das nossas vidas e nos deixe ser feliz – o grande objetivo de tudo, como diz o senso comum. Se o maior propósito da vida é ser feliz, o sofrimento é a pedra no nosso caminho, logo, espera-se que o Universo finalmente seja justo e nos deixe ter o que realmente merecemos, que é a felicidade.
O segundo trata-se do fato de que o Reveillón é mais uma forma de o ser humano sem Deus buscar redenção fora de Deus. O ano anterior foi ruim? Eu vou fazer o ano seguinte melhor. Houve pessoas que me fizeram sofrer? Agora elas sairão da minha vida. Meus pecados vieram à tona? Eu vou me tornar uma pessoa melhor. Minha “melhor versão”, como é moda dizer. Quem precisa de Cristo quando o ano novo renova as esperanças e a força para ser melhor e tornar tudo melhor sem Ele? Quem precisa de redenção, se “todos os nossos sonhos serão verdade”?
Trago essa reflexão não para tirar o brilho de um novo ciclo que se inicia, que de fato existe e serve para refletirmos a respeito de como estamos vivendo. Porém, para o cristão, todos essas expectativas para o ano novo ficam em segundo ou terceiro, quem sabe último plano. Nosso grande objetivo não é ser feliz. Nossa grande esperança não é que todos os nossos sonhos se realizem. Sermos os responsáveis pela redenção da nossa própria vida é um fardo pesado, cansativo e, em última análise, impossível. Sendo assim, que grande alívio é saber que a única expectativa que precisamos ter para o ano que se inicia é buscar a Deus, e todas as outras coisas nos serão acrescentadas. E que esperança sublime é saber que, independentemente de essas coisas serem boas ou más, estaremos firmes, seguros e plenos em Cristo.
Para 2018, busquemos conforto nas palavras do nosso Mestre: “uma [coisa] só é necessária” (Lucas 10:41).
Isso já nos garante que o nosso ano novo será, de fato, feliz.
Manuela Moraes é uma recifense de 26 anos formada em Comunicação Social e Administração de Empresas. Canta na Igreja Presbiteriana das Graças e fala sobre o Evangelho na Internet através do seu canal no Youtube e do Dois Dedos de Teologia. Apaixonada por cultura pop, música e pelo Luiz. Calvinista por paixão e por opção (de Deus).