Aprendendo liderança cristã numa mesa de café: Essa pequena reflexão surgiu depois de uma boa conversa com um amigo e uma amiga durante um café. Não sou acostumado a tomar café que não seja instantâneo ou o do seminário, então diante de frapês, cafés, capuccinos e alguns nomes que ainda não conheço, não soube bem o que escolher até que meu amigo perguntou:
– Quer que eu escolha pra ti?
– Aceito. Confio no seu gosto.
Lanchamos, vimos um filme e posteriormente no mesmo dia chegamos ao assunto sobre atitudes que eram esperadas de um homem e de uma mulher cristãos. Então, minha amiga falou:
– Sabe uma coisa que você fez que foi ruim? (Minha cabeça pensou nos meus piores pecados que eu poderia ter feito inconsistentemente) Você não escolheu seu café.
– Mas.. eu não sabia o que pedir.. eu não conhecia… eu..
– Não importa, se uma mulher vê que você não é capaz de escolher um café, o que te faz pensar que ela vai te ver como líder?
Depois do choque de realidade e de uma tentativa de me justificar, todo o pecado de Adão passou como um flash na minha mente, aceitei o conselho, reconheci a pequena falha de caráter e agradeci pelo que foi dito. E percebi, é nessas pequenas coisas que demonstramos nossa liderança, mesmo diante de algo desconhecido. Seja isso um cardápio, ou uma decisão sacrificial
Não saberemos de tudo
Não somente pelos efeitos do pecado, mas por nossa própria limitação como seres criados, nosso conhecimento sempre será limitado e dependente de que algo nos seja revelado e por nós percebido. Essa limitação não é motivo de inferioridade, mas de percepção de que não somos autônomos e que somos criaturas que dependem de um criador.
A tentativa de obtenção de conhecimento autônomo resultou na entrada do pecado do mundo e aquilo que era nossa limitação para depender de Deus se tornou nosso impedimento de ter acesso a ele. A falta de ação de Adão em não impedir que Eva comesse do fruto e ação dele de comer contaminou a todos.
A falta de ação adâmica
A falta de ação adâmica contaminou Abraão que não soube o que fazer para como sobreviver ao rei e teve que mentir sobre Sara ser sua irmã. A falta de ação adâmica contaminou Arão que não soube o que fazer diante da murmuração dos hebreus. A falta de ação adâmica contaminou Sansão que não soube o que fazer diante do engano de Dalila, a falta de ação adâmica contaminou Davi que não soube o que fazer quando pecou com Bate-Seba e quando sua filha foi violentada. Salomão – o homem mais sábio – foi contaminado e cedeu à idolatria de suas esposas. Ela contaminou os reis e sacerdotes de Israel, contaminou Pedro que negou Jesus. Contaminou a mim pelo simples fato de estar diante do desconhecido e me paralisou, sem nem sequer me fazer pedir uma orientação de quem era mais experiente.
The devil is on the details
O diabo está nos detalhes, já diz o ditado. Olhamos para os exemplos acima e nos surpreendemos de como esses homens puderam cair em pecados tão grandes. Conseguimos até aprender com seus contra-exemplos para que não caiamos da mesma forma, porém é nos detalhes que percebemos que precisamos amadurecer como indivíduos do sexo masculino designados para serem os lideres espirituais de seu lar e da igreja. É na discussão trivial, na omissão do erro, na falta de ação diante do que se não controla que falhamos como homens, falhamos como líderes e como cristãos. É nossa conduta e reação diante do inesperado e daquilo que foge nosso controle revela o nosso grau de maturidade como homens.
Saber que não é certo bater na mulher é obvio, mas escolher o presente para ela no seu aniversário é que dá indícios de nossas prováveis falhas. Nós homens fomos designados por Deus para sermos os líderes que a igreja e os lares precisam. Precisamos cultivar uma vida sábia diante do que o Senhor nos designou para ser. Isso abrange desde o culto doméstico até a escolha de qual filme será visto num momento de lazer. Eu poderia não conhecer o cardápio, mas por Deus! Era só um café! Eu poderia me limitar a escolher um expresso, ou pedir opinião dos amigos. A simplicidade da solução evidenciou ainda mais minha falta de atitude, meu erro que se não fosse devidamente tratado – e graças a Deus foi e tem sido pelos amigos que me rodeiam – poderiam resultar em falta de tomadas de decisões muito mais importantes.
Sabedoria, não ativismo.
Entretanto, não podemos confundir proatividade e uma postura capaz de tomar decisões com ativismo. Ativista cristão é aquele homem que é tão inseguro em sua masculinidade que tenta fazer de tudo para que os outros tenham a impressão de que ele sabe tomar decisões, ou que está apto para pôr a mão na massa. É o homem que tenta ser aceito a todo e qualquer custo, e por isso tenta fazer de tudo para provar seu valor. Contudo, antes da quantidade devemos olhar para a qualidade daquilo que é realizado. Diferentemente do ativista, o sábio cultiva uma mentalidade cativa à palavra e à sabedoria de Deus.
É importante ressaltar que sabedoria divina não é simplesmente saber algo, mas é o saber aliado ao proceder digno. É uma ação que está fundamentada em uma renovação da mente e que por isso sabe discernir qual é a vontade de Deus. Como líderes em formação ou em exercício, nós homens temos que dobrar joelhos em oração e meditar na palavra de Deus dia a dia para que esse caráter seja formado em nós.
Quando estamos acostumados a ver a vida de modo cartesiano, onde a resposta é binária ou onde os conflitos éticos são sempre preto no branco, situações em que nos deparamos com aquilo que foge de nossa sistematização exagerada da vida poderão ser respondidas de forma errada, precipitada ou pior, nem mesmo respondidas, mas encaradas com rostos vazios que revelam a incapacidade de agir segundo o que é requisitado. Até mesmo a escolha de um café.
Escolheu seu café?
Precisamos reconhecer nossas limitações e que precisamos de ajuda. Podemos pedir conselhos, mas não podemos ficar inertes. No meu caso, se não conhecemos o cardápio, peçamos orientação a quem já é experimentado e conhecedor. O que não pode ser feito é ficar sem ação. Temos que agir, mas com sabedoria. E é sábio dizer “não sei, me ajude.”
Infelizmente, o número de homens que não pedem seu café tem aumentado. Esses homens estarão nas igrejas, mas nem sempre contribuindo positivamente. Esses homens constituirão famílias, mas nem sempre serão lideres espirituais. Podem ser fortes como Sansão ou terem dinheiro como Salomão, mas se uma masculinidade que reflete a liderança designada aos homens não for trabalhada desde as pequenas coisas que nem sempre notamos, serão homens que não serão padrão. Liderança cristã não se aprende em palestras motivacionais e coachings, mas na labuta da fé, na leitura da palavra e no quarto de oração clamando para que graça de nosso Senhor nos tire tanto da falta de ação quanto do ativismo sem valor, ela é aprendida na roda dos esclarecedores, junto aos irmãos mais sábios. Fomos chamados para liderar, para saber proceder, para agir à semelhança de Cristo, da escolha do espumone à escolha sacrificial por nossas (futuras ou atuais) mulheres.
Matheus Fernandes, Membro da Igreja Batista Filadélfia e seminarista no Seminário e Instituto Bíblico Maranta – SIBIMA.