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Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
Tiago 4:6

Eu não sei quantos já assistiram ao “Rei Leão”. Foi minha infância. Eu tinha a famosa “fita de vídeo cassete” do filme do Simba e assistia umas dez vezes por dia. Esses dias, em um momento nostálgico, ouvi uma das músicas que tem no primeiro filme. Uma parte da letra dizia assim:

“O que eu quero mais é ser rei! Ninguém dizendo: ‘não faça isso!’ Ou então ‘pare com isso!’
[…] Livre pra poder viver, pra fazer o que quiser…”

7 bilhões de reis

E então eu percebi o que com cinco anos eu não podia mensurar: vivemos – desde sempre – num mundo egolátrico (idólatra do ego). Isso significa que posso dizer que todos nós temos a forte de tendência de idolatrarmos a nós mesmos. Nossa busca natural, sejamos crentes ou não, é por um reino só nosso. Isso é fácil perceber quando olhamos pra imensa dificuldade ao resistirmos as tentações, ou pra impossibilidade, dos não regenerados, em se sacrificar sem que seja por motivos que lhes tragam alguma recompensa. Não dizemos “não” com facilidade na hora da tentação porque queremos satisfazer a nós mesmos. Nos amamos tanto que quase não conseguimos nos parar. Precisamos deixar o nosso EU de barriga cheia. Caso contrário, ficamos tristes, chateados, emburrados.

Crescemos assim. Aprendemos que devemos viver para nós mesmos; “ouvir nosso coração”, fazer o que quisermos. Submissão? Que nada! Isso é do passado. Estamos numa sociedade livre. Livre de regras. Humildade não é mais tão legal assim. A carta de Tiago enfatiza vários contrastes, entre eles o tema da humildade e soberba. Fala muito sobre como nos portamos em relação aos outros e à nós mesmos. Ela nos desafia a termos uma postura bem diferente do que alguém que faz de si mesmo um rei. O rei merece que outros vivam em prol dele. Viver uma vida com o objetivo de final de nos agradar é a pior e mais comum das atitudes. E somos assim.  Todos são nossos súditos. “Por que ele(a) me tratou assim? Quem ele(a) pensa que é? Você está falando com um rei! Vou lhe punir com meu ódio, rancor, raiva e desprezo.” Não seriam poucos os exemplos comuns do cotidiano que acabam por provar o nosso desejo auto monárquico.

Coroa de espinhos

Diante de um mundo com 7 bilhões de reis, vemos o verdadeiro Rei vindo a este mundo numa estrebaria. Ele não “veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” Mc 10:45. Jesus tinha todos os motivos para gloriar-se. Diferente de nós, ele merece glória. Ele é o centro de tudo. De fato, tudo gira ao redor dele. O mundo veio a existir por meio dele. Toda a criação está sujeita a seu senhorio. Não há quem não seja seu súdito. Mas…

Embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se;
mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.
(Filipenses 2:6,7)

É interessante como Cristo realizou sua obra redentora – de certa forma – de modo tão poético. Que lição, amigos. Ele salva pecadores cheios de si ao esvaziar-se. Ele se entrega, sendo o dono de tudo. Ele se humilha, sendo o mais exaltado ser. Se faz homem, sendo Deus. Humilha a si mesmo para resgatar homens perdidos por tanto se exaltarem. Não é à toa que ele nos salva de nós mesmos. Cristo recebe uma coroa de espinhos e seu cálice é seu próprio sangue. Na Cruz, o Rei eterno morre para dar a vida aos servos. Enquanto nos inflamos para não levarmos desaforo para casa, Jesus leva todos os nossos pecados até a cruz.

Matando nosso Simba

Conhecer a Deus deve nos humilhar. A Palavra de Deus nos humilha. E graças a Deus por isso. O destino de todo aquele que se exalta é a destruição! (Nabucodonosor que nos diga). Enquanto Satanás, para nos destruir, nos exalta, Deus, para nos crescer, nos humilha. Enquanto Satanás nos oferece um reino para ser nosso, Deus nos oferece o Seu próprio Reino. Quanto mais de nós nos enchermos, menos de Cristo teremos. O convite do evangelho é que carreguemos uma cruz, não uma coroa. Para que, no fim, recebamos a coroa da vida no Reino eterno. O convite do evangelho é que abandonemos nossa vida para que Cristo viva em nós. Não há ressurreição sem morte. Se fomos ressuscitados com Cristo é porque com ele morremos!

Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. (Filipenses 2:3-8)

O evangelho não é sobre nós. O evangelho é sempre sobre o outro. Primeiramente, sobre o Outro, Cristo, e depois sobre os outros, nossos irmãos. Consideremos os outros superiores a nós mesmos. Viver uma vida de humildade é uma luta. Não deve ser fácil pra ninguém. Uma vez falei a um amigo que ele deveria lutar contra a arrogância. A resposta foi “não sou arrogante”. Isso parece uma ironia pronta: não houve humildade para admitir que, na verdade, todos somos. Há quem lute mais ou quem lute menos. Mas todos somos arrogantes. A nossa oração deve ser sempre que Deus nos faça reconhecer nossos pecados e quem somos diante Dele e ao ver toda a Sua grandeza, olhando para Ele, nos prostrarmos ao único Rei oferecendo adoração que só será verdadeira se nascer de um coração humilhado.

 

Richardson Gomes, membro da Igreja Batista Maanaim, designer e produtor de vídeo, cursa Publicidade e Propaganda no Centro Universitário 7 de Setembro e Teologia no Seminário e Instituto Bíblico Maranata.