O mais novo filme de Christopher Nolan conta a história do milagre de Dunkirk, fato ocorrido em 1940 durante a segunda guerra mundial. Na ocasião, aproximadamente 400 mil soldados que estavam encurralados pelo exército alemão no litoral da França foram resgatados heroicamente por meio de uma grande travessia no canal da mancha. A situação era parecida com a do povo Hebreu quando ficou encurralado entre o exército egípcio e o mar vermelho. Ali Deus abriu o mar, mas em Dunkirk o milagre ficou marcado pelas centenas de embarcações civis que foram a guerra para resgatar os soldados. Foi algo realmente impressionante e que teve grande influência na futura vitória dos Aliados.
Impressionante também é o filme de Nolan. Ele foge ao padrão convencional de filmes de guerra. Não há um herói principal e nem uma saga focada em algum personagem ou grupo específico. Dunkirk é um filmes de grandes cenas e uma trilha sonora espetacular. A imagem e o som são os grandes protagonistas. A experiência que tive em Imax foi sensacional! Vale a pena pagar um pouco mais caro por isso. As belas e intensas imagens unidas a uma trilha sonora com ritmo angustiante e emocionante nos dão uma sensação de movimento intenso que está sempre subindo para o clímax sem nunca chegar ao fim. Essa união entre imagens e sons orquestrada por um grande diretor nos deixa as quase 2 horas de filme sem piscar e com “o coração na mão”.
Essas características de Dunkirk e sua pegada mais diferente me lembraram do ato da pregação. A relação que há entre imagens, sons e atores em Dunkirk pode ser uma boa comparação com as “imagens”, “sons” e “atores” da pregação. Creio que podemos tirar 2 lições dessa comparação.
Imagens Intensas e Belas
Nolan conta a história de Dunkirk em 3 linhas de tempo diferentes: 1 semana na Praia, 1 dia no mar e 1 hora no ar. As cenas, principalmente na praia e no ar, são bem intensas e muito bonitas. Há um grande trabalho de fotografia. O visual de Dunkirk é realmente lindo. E assim como Nolan trabalhou suas cenas, Deus também tem nos dado lindas imagens sobre o seu ser e sua obra. A Palavra revelada de Deus é a sua produção visual a nós. Nas escrituras encontramos imagens belíssimas sobre o Deus que servimos e pregamos. Em Jesus e no evangelho encontramos o ápice de intensidade e beleza dessas imagens “revelacionais”.
Aqui está um dos grandes elementos da pregação: a verdade de Deus sendo exposta ao povo como belas imagens de um filme que saltam da Palavra de Deus. É fundamental que a pregação seja uma exposição dos fatos e das doutrinas que foram reveladas pelo grande diretor do universo. A pregação segue o mais lindo roteiro de todos os tempo e precisa mostrar ao mundo as cenas intensas que foram planejadas e executadas pelo diretor. Encontramos no evangelho a grande cena, mais bela e intensa! A pregação consiste em exposição da verdade, assim como Dunkirk está mostrando o que realmente aconteceu durante a guerra.
Lição 1: O pregador é responsável somente por expor a verdade intensa e bela dos fatos e doutrinas da Palavra de Deus assim como as imagens intensas e belas em Dunkirk tentam ser fiéis a verdade sobre a realidade da segunda guerra. Não há espaço para seus achismos e invenções sem fundamento. A exposição precisa ser fiel ao que está escrito.
Sons Intensos e Emocionantes
Sem uma trilha sonora ou com um trilha sonora ruim, Dunkirk seria um filme entediante. A cenas, por mais reais e movimentadas que sejam, não seriam capazes de gerar as emoções que sentimos quando sons e imagens se misturam. É por isso que a experiência em Imax (sala com maior qualidade de imagem e som) é ainda melhor. Os sons dos bombardeiros inimigos e a música que marca um ritmo sempre “subindo” tornam as cenas angustiantes e desesperadoras, causando uma grande conexão emocional com as imagens. E é exatamente esse o ponto: a pregação também precisa de uma “trilha sonora” que conecte as pessoas emocionalmente com as “cenas” que estão sendo expostas.
Esse é o segundo grande elemento da pregação: a verdade de Deus em conexão com o coração do povo como uma bela trilha sonora que vem de um pregador impelido pelo Espírito Santo. É fundamental que a pregação não se limite a somente expor fatos e doutrinas, mas que a exposição se conecte com o coração da pessoas e mexa com suas emoções. O púlpito não é lugar de palestras ou aulas, mas da ação sobrenatural do Espírito Santo atuando como uma trilha sonora que toca nossos corações profundamente. Como o grande pregador Martyn Lloyd Jones diria, pregação não é só teologia, mas teologia em chamas!
Aqui chamo atenção para dois pontos. (1) O grande compositor dessa trilha sonora é o Espírito de Deus. Ele é o responsável pelas chamas. Só ele alcança os corações através de suas notas e tons sobrenaturais. (2) Dependendo disso está a postura do pregador como alguém que acompanha a trilha sonora peculiar da pregação. John Wesley também disse algo interessante ao afirmar que ou colocamos fogo em nosso sermão ou colocamos nosso sermão no fogo. É o Espírito que dá o tom, mas o pregador deve acompanhar esse tom peculiar da pregação.
Lição 2: O pregador dependente do Espírito também tem papel no tom da pregação, que é diferente de aulas e palestras. É preciso saber quando um homem está pregando ou simplesmente palestrando. Só o Espírito toca os corações, mas é papel do pregador, no seu estilo (sem imitações ou artificialidades), pregar com intensidade e emoção.
O Resultado da Obra
Em Dunkirk o grande artista é o diretor Christopher Nolan. Mesmo com um bom e badalado ator como Tom Hardy, o público sairá dos cinemas lembrando das grandes cenas e suas emocionantes músicas e efeitos sonoros. A união entre imagens e sons é tão grandiosa que o filme consegue emocionar, prender a atenção e impactar com poucos diálogos e foco em personagens/atores. Assim deve ser também o resultado da pregação. Seu grande artista e diretor é Deus. E a grandiosa união de sua Palavra revelada como belas imagens e seu Espírito impelindo pregadores como uma intensa trilha sonora coloca pregadores em segundo plano, sem necessidade do foco na personalidade.
O resultado é uma exposição pura da verdade através do poder do Espírito Santo que impele pregadores a serem intensos e vívidos, tocando e impactando o coração dos ouvintes sem exaltar a figura do pregador. Dunkirk é um exemplo de como um filme pode fazer isso, e podemos aprender que a pregação também pode e deve. Exponha as belas verdades das Escrituras e dependa do Espírito para pregar com intensidade e emoção para a glória de Deus!
Pedro Pamplona é casado com Laryssa e formado em administração pela Faculdade 7 de Setembro (Fortaleza/CE), pós-graduado em Estudos Teológicos pelo Centro Presbiteriano Andrew Jumper (São Paulo/SP) e estudante do Sacrae Theologiae Magister (Th.M) em Teologia Sistemática do Instituto Aubrey Clark (Fortaleza/CE). Serve integralmente como líder de jovens na Igreja Batista Filadélfia, em Fortaleza.