Pelas minhas contas (não muito boas), completei 10 anos como pregador da palavra de Deus. Foi com uns 18 anos que fui ao púlpito pela primeira vez para pregar formalmente. Lembro até hoje, e seu eu fosse me avaliar naquela ocasião, diria que não foi bom. Eu era um rapaz bem mais tímido do que sou hoje e não sabia falar em público. A boa notícia é que de lá para cá posso olhar para traz e ver o quanto melhorei. Deus tem me capacitado por vários meios que temos para aprender a pregar melhor.
Se você é um jovem pregador iniciando agora, provavelmente você ainda vai aprender muito. Não tenha medo de pregar por ainda não ser um ótimo pregador. Vá por mim, tem coisas que só aprendemos pregando. Não tenha medo de pregações ruins, isso faz parte. São por meio delas que surgem as boas. Num pequeno texto bem interessante chamado The Hidden Beauty of a Bad Sermon (A Beleza Escondida de Sermões Ruins – vou traduzir e postar aqui em breve), Tim Challies diz que jovens pregadores “pregam sermões ruins enquanto estão aprendendo a pregar bons sermões”.
O problema de pregações ruins ou mais fracas é continuarmos nelas. Mas enquanto estivermos usando-as para melhorar, estamos no caminho certo. Faço isso até hoje e continuarei fazendo para sempre. Por isso, falando esses 10 anos de pregação, quero deixar aqui 10 conselhos muito práticos para te ajudar a pregar melhor. Não se trata de teologia ou exegese, mas de coisas relacionadas a entrega da mensagem. Espero que te ajudem!
1. Você não precisa mostrar todo o seu estudo
Quando começamos a pregar nos empolgamos para estudar muito e preparar a mensagem. Usamos todos os recursos possíveis porque queremos passar um conteúdo de qualidade. Esse deve ser sempre o pensamento, mas cuidado para não confundir pregação com seu estudo prévio. Você não precisa mostrar tudo o que estudou, citar várias coisas que leu ou até seu método exegético e traduções das línguas originais. Fazer isso vai cansar os ouvintes e tirar o foco das suas conclusões. Normalmente, na pregação, apresentamos o significado encontrado e suas aplicações.
2. Prefira pregações não tão longas
Vamos ser sinceros. No começo nós não pregamos bem. Pelo menos a maioria de nós. Não sabemos apresentar bem as ideias, atrair a atenção da igreja e ilustrar bem o que estamos ensinando. Por isso, pregar menos nos torna mais eficientes. Pregações mais longas demandam mais intimidade com o púlpito. Seja simples, direto e tente não cansar seus ouvintes.
3. Se você quer pregar 40 minutos, se prepare para 30
Ainda sobre o tempo, sempre tenha em mente que nós falamos mais do que preparamos no esboço. No púlpito surgem novas ilustrações, aplicações e coisas interessantes. Se você quer pregar 40 minutos, se prepare para menos. Lembre-se do conselho anterior.
4. Escreva tudo o que você pretende falar
Cada pregador tem seu estilo de esboço. Alguns não usam, alguns escrevem apenas os pontos principais, alguns escrevem um resumo das falas e outros escrevem tudo. Meu conselho é que você comece escrevendo tudo. Isso vai te dar mais segurança na hora de falar e vai te ensinar a preparar esboços. Até hoje eu escrevo tudo ou quase tudo, principalmente se a pregação tiver um conteúdo mais profundo. Não confio na minha memória. Em pregações mais curtas é que escrevo somente os pontos.
5. Ensaie a pregação em casa
Parece coisa de doido, mas ensaiar a pregação falando sozinho em casa me ajuda demais. Sempre faço isso depois de ter estudado e escrito os principais pontos do esboço. É impressionante como essa prática me ajuda a ter novos insights, ideias melhores para explicar algo, melhores ilustrações e aplicações. Depois sempre volto para o esboço para modifica-lo. Fica bem melhor. Além disso, me possibilita cronometrar o tempo da pregação. Eu me preocupo realmente com isso, principalmente quando sou convidado para pregar fora da minha igreja.
6. Evite ao máximo ler muito o esboço
Trate o esboço como um guia e uma ajuda caso sua memória vacile. Evite ficar lendo durante toda sua pregação. Somos tentados a fazer isso pelo nervosismo, insegurança e timidez. Lute contra isso e mantenha os olhos na congregação. Olhe para a frente e fale para quem está te ouvindo. Busque memorizar o máximo possível do seu conteúdo. Pregar é interagir com a igreja. Ficar apenas lendo torna a pregação entediante e sem força.
7. Não seja um imitador
Tenho certeza que você tem seus pregadores preferidos e se inspira neles. Posso citar John Piper, Steven Lawson e Augustus Nicodemus como os meus. Sei também que inevitavelmente absorvemos alguns traços do pregadores que admiramos e ouvimos. Muito provavelmente você pregará parecido em alguns momentos com o pastor da sua igreja. Isso é normal, mas devemos ter cuidado com a imitação. Não seja um imitador de pregadores famosos. Procure sua própria identidade no púlpito. Seja o melhor possível ao seu estilo. As pessoas percebem quando você está fazendo um cosplay do Paul Washer. A pregação fica teatral e perde a credibilidade.
8. Cuidado com os vícios de linguagem
“Aaaah”, “ééé”, “né”, “ta certo?”… Preste muita atenção nos seus vícios de linguagem. É impressionante como nós pregadores não percebemos isso. Peça para sua namorara, esposa ou algum outro pregador avaliar você e notar coisas desse tipo. Grave suas pregações em áudio com o celular e escute depois. Perceba essas expressões inúteis que você repete e tente não fazer mais. Isso pode ser melhorado e vai ajudar demais no fluir da pregação. Quanto menos “ruído” melhor.
9. Exalte o Deus da mensagem por meio de um mensageiro empolgante
Seja um pregador empolgante. Gosto muito do que John Piper fala sobre pregação. Ele a define como “exultação expositiva”. Pregar não é só expor um texto corretamente. Isso pode ser feito numa sala de aula. Pregar é empolgar os ouvintes para adorar a Deus por meio da exposição correta do texto. Como diria Lloyd Jones, pregação é teologia em chamas. Ou Wesley que nos mandou colocar fogo no sermão. Pregue de um jeito que mostre a urgência da mensagem, sua alegria com o conteúdo e a empolgação contagiante para com Deus.
10. Busque por avaliações sinceras
Nunca seja um pregador solitário. Se coloque debaixo da avaliação sincera de outros pregadores mais experientes. Busque por aqueles que vão dizer que foi ruim quando foi ruim. Aqueles que farão críticas construtivas em amor. É por meio desses feedbacks que vamos aprender muito a pregar melhor. Aqui na igreja avaliamos os que estão começando a pregar. É olho no olho e sinceridade voando pela sala. E tem sido uma ótima forma de corrigir, melhorar e encorajar.
Para encerrar, lembre-se que a pregação é um privilégio, uma responsabilidade e uma alegria enormes. Ore sempre por suas pregações. E continue a pregar. Pregue a palavra! E que Deus te faça um pregador cada vez melhor, no poder do Espírito, para a honra e glória de Jesus!
Pedro Pamplona é casado com Laryssa, pai do Davi e pastor na Igreja Batista Filadélfia, em Fortaleza. Estudante do Sacrae Theologiae Magister (Th.M) em Teologia Sistemática do Instituto Aubrey Clark (Fortaleza/CE). |Instagram| |Twitter|
Imitar Paul Washer seria até bom, visto que alguns jovens que conheço que pregam, imitam coisas bem esquisitas… uma mistura de Lucinho com Benny Hinn.